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Lee Jackson
Uma banda de milhões

A trajetória do conjunto musical Lee Jackson precisa ser contada em capítulos. Em longo artigo publicado em sua revista Sucesso CD, Tom Gomes - que prepara para o segundo semestre livro biográfico sobre a manda - mostra porque este grupo se tornou tão importante. Vamos ouvir os fundadores da banda e seus integrantes, os empresários que ajudaram a fazer dela um sucesso nos anos 70 e profissionais que participaram de sua história, em mais de três décadas. Vamos contar como e porque seus integrantes se transformaram em referência sempre que se fala de produção musical no Brasil e na América Latina.

Tom Gomes

PARTE 1


A banda Lee Jackson teve como estrelas (em ordem alfabética) Cláudio Condé, Luiz Carlos Maluly, Marco Bissi, Marcos Maynard e Sérgio Lopes. Lembramos que Cláudio Condé é o presidente da Warner Music Brasil, Luiz Carlos Maluly é um dos mais vitoriosos produtores musicais de nosso país, Marco Bissi é o presidente da EMI Music Latina, Marcos Maynard é o presidente da EMI Music Brasil e Sérgio Lopes é o vice-presidente de Marketing da EMI Latina. Nos últimos anos eles dirigiram ou presidiram empresas como Sony Brasil, Sony México, Sony Espanha, Sony Latin USA, Polygram Brasil, Polygram Portugal, Universal México, Abril Music, entre outras.

O grupo começou ao mesmo tempo, porém em bairros diferentes de São Paulo. Em Pinheiros, os jovens Marcos Maynard e Dudu França, com o fim do conjunto Colt 45, convidaram Nescau (Marco Antonio F. Cardoso), Cláudio Callia, Niccoli (Alberto Niccoli Jr) e Xilo (Juvir M. Moretti) para formar uma banda de rock. Assim nasceu o Memphis, que em 1968 estreou no Círculo Militar. Na Aclimação, onde vamos focar nossa primeira entrevista, alguns anos antes, Luiz Carlos Maluly, Milton Brando, Eduardo Lico (Dadão) e Eduardo Nogueira de Abreu (Dudu) formaram o grupo instrumental Madsman. Eram influenciados pelos conjuntos americanos Ventures e Shadows. Algum tempo depois Maluly, que dava aulas de guitarra, ouviu um garoto, sentado na calçada, perto de sua casa, cantando All My Loving dos Beatles. Era Cláudio Condé, que havia acabado de voltar da Itália, país onde viveu por alguns anos com sua família.

"No mesmo dia convidei o 'Italiano' para cantar no conjunto (até hoje Cláudio Condé é chamado por este apelido pelos integrantes do grupo) e logo em seguida chamei o Sérgio Lopes, que também era nosso vizinho (era um garotinho, devia ter uns 12 anos na época), para tocar guitarra em nossa banda, que então mudou de nome. Aí nasceu o Amebha. O conjunto passou a tocar nas domingueiras do Círculo Militar de São Paulo graças ao pai do Sérgio, que era amigo do Seu Alfredo (diretor social e responsável pela programação artística do clube). Começamos a criar nosso público e a levar muita gente para estas festas que reuniam jovens de todos os bairros de São Paulo, principalmente os da Zona Sul. Começamos a fazer sucesso e fomos contratados para animar também as festas do Círculo Italiano às sextas-feiras. Foi quando o Milton saiu da banda e o Sérgio começou a tocar baixo. Logo em seguida saiu o Dadão e entrou o Felipe Dib, na bateria. O Dudu parou de tocar e virou técnico e empresário da banda," rememora Maluly.

Na época havia um produtor discográfico chamado Cesare Benvenutti (que atualmente vive na Itália), que era o Midas das bandas novas. Ele criava nomes para os grupos, gravava com eles em inglês e levava as músicas para as rádios que tocavam o que o público jovem daquele tempo queria ouvir, ou seja, rock and roll norte-americano (embora não soubessem que estavam ouvindo músicas feitas por brasileiros).

"O Cesare foi assistir um ensaio nosso na casa do Felipe, na Vila Mariana. Ele era o único que não morava na Aclimação. O Cesare gostou da banda e produziu um compacto simples conosco, cantado em inglês. Lançou o disco, que passou a tocar nas rádios como se fosse de um conjunto estrangeiro chamado Connection Eyes. Era uma situação dúbia: tocávamos nos clubes e todos nos conheciam como integrantes do Amebha. E nossa música tocava nas rádios onde éramos o Connection Eyes, mas não podíamos contar que éramos nós. Em seguida gravamos uma composição minha chamada K K K Love que foi lançada na Argentina. O nome do grupo era Day By Day. A música foi um tremendo sucesso mas até hoje não recebi nenhum centavo de direito autoral vindo da Sadaic, entidade que arrecada lá os direitos de execução."

Enquanto isso pelos lados de Pinheiros, os integrantes do Memphis, que também se apresentavam nas domingueiras do Círculo Militar e que também eram produzidos pelo Cesare, tinham acabado de gravar uma música chamada Oh Oh La La La, não como Memphis e sim com o nome de Lee Jackson. Foi quando Maynard resolveu sair do Memphis, que já era uma banda bastante conhecida pelo público teen de São Paulo.

"O Cesare quis aproveitar o sucesso que a música estava fazendo nas rádios. Ele propôs que o Maynard se unisse a nós. Maynard tocava órgão e nós não tínhamos ninguém que tocasse este instrumento. Propôs também que passásemos a usar o nome Lee Jackson que, graças ao sucesso de Oh Oh La La La, começou a se popularizar mesmo sem a banda existir. Assim o Amebha morreu e nasceu o Lee Jackson com a seguinte formação: Maluly na guitarra, Cláudio Condé como cantor, Sérgio Lopes no baixo, Felipe Dib na bateria e Marcos Maynard no órgão. O seu Alfredo, que gostava muito do Maynard e do Condé e que, além disso, era amigo do pai do Sérgio, preparou uma tremenda festa para nossa estréia no Círculo Militar, já o templo da música jovem em São Paulo. Como fazia quando trazia conjuntos e artistas internacionais, mandou colocar uma faixa enorme na porta do clube com nosso nome. A partir daí passamos a gravar e a nos apresentar como Lee Jackson."

Hey Girl foi o grande sucesso do Lee Jackson e tem uma curiosa história: "ela faz parte de um compacto simples. Gravamos primeiro uma música do James Taylor chamada Something In The Way She Moves, que acabou sendo o lado B. Quando iríamos gravar a segunda música, Hey Girl, composição do Felipe Dib, nosso baterista, seu pai exigiu que ele saísse do grupo. As múltiplas atividades da banda estavam atrapalhando seus estudos. Fomos em busca de outro baterista e aí o Bissi começou a fazer parte de nossa história. Ele entrou na banda e, de cara, gravou conosco o nosso grande sucesso. Foram vendidos 250 mil compactos pelo selo Cash Box, dirigido pelo Cesare e pertencente à Copacabana Discos."

Com Bill Halley - A banda gravou outros discos durante os anos 70. Um deles, Rock Samba, em que eles selecionaram rocks clássicos e fizeram uma fusão com ritmos brasileiros, teve a participação de Bill Halley no estúdio. Ela abriu todos os shows que o grande precursor do rock and roll e seus Cometas fizeram no Brasil. Paralelamente às atividades da banda, seus integrantes foram trabalhar em gravadoras.

"Fui trabalhar com o Marcos Maynard e com o Cláudio Condé na Philips. O Maynard cuidava da área artística e o Condé da parte internacional. Nós produzíamos discos e tocávamos nas gravações. Não tínhamos mais tempo, nem vontade de continuar com a banda. O Lee Jackson deixou de ser nossa prioridade. Quando o Condé foi para Portugal para assumir a presidência da gravadora, ainda continuamos um tempo juntos com o Ray (vocalista da banda Koumpha) cantando em seu lugar. Meses depois depois a banda acabou."

Luiz Carlos Maluly formou-se arquiteto mas profissionalmente sempre dedicou seu tempo à produção musical. Nos anos 70, inicou a carreira de produtor produzindo discos dos artistas: Nelson Ayres, Silvio Brito, Luís Vagner, Lady Zu, Terry Winter, Tetê Espindola entre outros. Nos anos 80 produziu discos que venderam milhões de cópias, tornando-se assim o profissional preferido das bandas de pop rock (RPM, Engenheiros do Hawaii, Rádio Táxi, João Penca e Seus Miquinhos Amestrados, Inimigos do Rei, Egotrip, Metrô, Replicantes, Tokyo, etc.).

No início dos anos 90, dedicou-se ao exterior e viveu uma cansativa ponte aérea entre São Paulo, México City e Los Angeles, produzindo os discos de Maria Conchita Alonso, Lucia Mendez, Enrique Guzmán, Angélica Maria, Grupo Coda, Tatiana, Cecilia Toussaint, entre outros artistas latinos. Neste período, foi convidado por Marcos Maynard (então presidente da Polygram brasileira) para se fixar no Rio de Janeiro e assumir o posto de diretor artístico do selo Polydor, onde produziu e dirigiu vários artistas, como Cássia Eller, Paulo Ricardo, Guilherme Arantes, Zizi Possi, Ney Matogrosso, Chitãozinho & Xororó, Sandy & Junior, Simone e Caetano Veloso.

Em 1999, resolveu trabalhar de maneira independente, quando foi procurado por artistas da música sertaneja. Participou da produção dos discos de Fred & Pedrito, Marlon e Maicon, Roberta Miranda, Tony Francis e desde 2001 é o produtor dos CDs e DVDs da dupla Bruno & Marrone que, a partir da participação de Maluly em sua carreira, tornou-se o grande fenômeno de vendas do gênero. Com a dupla, Maluly ganhou seu primeiro GRAMMY Latino. Ele, que sempre foi considerado um dos maiores produtores brasileiros, atualmente mostra toda sua versatilidade fazendo também da música sertaneja um espaço para seu talento. E isso é provado também pelo sucesso dos recentes discos de Edson & Hudson, produzidos pelo ex-Lee Jackson.

PARTE 2


Quando a história dos últimos 40 anos da música brasileira for contada iremos encontrar um nome em inglês: Lee Jackson. Aqueles meninos nascidos no meio da classe média de São Paulo e que fizeram tanto sucesso tocando e cantando durante sua adolescência, seguiram depois, durante quase três décadas, participando da criação de muitos outros sucessos. E continuam criando. Usando o mesmo talento da juventude propiciaram a descoberta de centenas de outros talentos. E continuam descobrindo. Eles demonstraram como os profissionais brasileiros podem ser competentes e brilhantes na condução dos destinos de grandes companhias internacionais, não só no Brasil como em outros países. E continuam demonstrando. Mais que tudo, eles são a constatação de que, quando as companhias são dirigidas por pessoas que amam mais a música que os números, os resultados podem ser numericamente mais lucrativos.

Cláudio Condé, atual presidente da Warner Music e da Associação Brasi leira de Produtores Discográficos (ABPD), era o vocalista do Lee Jackson naqueles áureos tempos em que a banda transformou-se em verdadeira febre entre os jovens e adolescentes do Brasil - e de outros países, como Argentina). A seguir, ele fala de sua participação na banda e de seu trabalho como executivo da indústria discográfico.

"Nasci em São Paulo, na Vila Mariana. Meus pais eram de classe média e perdi meu pai muito cedo. Ele morreu com 38 anos, em 1961, quando eu tinha apenas 11 anos. Era diretor comercial de uma concessionária Mercedes Benz. Ele sempre lutou muito para nos proporcionar boas escolas. Eu estudei no Anglo-Latino, no bairro da Aclimação, durante minha infância. Logo após a morte de meu pai fomos morar na Itália. Minha mãe tinha sido criada na Itália por umas tias e então fomos para lá. Eu, minha mãe e meu irmão vivemos naquele país durante três anos. É por isso que os integrantes da banda me chamam de 'Italiano'. Voltamos ao Brasil em 1964 e fomos morar na Aclimação, onde minha mãe mora até hoje. O Maluly morava lá e o Sérgio Lopes também.

Eu estudava à noite (fiz o curso técnico de contabilidade na Álvares Penteado e depois formei-me em economia na Universidade Católica de São Paulo, em 1972), porque quando voltei da Itália comecei a trabalhar durante o dia. O Maluly tinha um conjunto instrumental e me convidou para assistir alguns ensaios. Então tornei-me o cantor do grupo. Aí começa o Amebha. Do primeiro grupo de integrantes, só ficamos eu e o Maluly. O Dudu ainda ficou um tempo conosco como técnico de som. Os outros, Dadão e Milton, foram, cada um, para seu lado, e seguiram outras carreiras. Convidamos então para tocar conosco o Felipe (baterista) e o Sérgio Lopes, que era bem mais novo que a gente. Ele era um moleque mas tocava muito bem. Nesta época eu trabalhava (no início, era auxiliar de contabilidade), estudava e tocava nos fins de semana. Nós não ganhávamos dinheiro nesta época. Tocávamos pelo prazer de tocar.

Nos apresentávamos aos domingos no Círculo Militar e lá sempre encontrávamos outros grupos musicais cujos integrantes tinham a mesma idade. Apesar de não haver um grande convívio com outras bandas, pois morávamos em bairros diferentes, sempre houve muita afinidade entre os conjuntos. Foi assim que conhecemos o Marcão (Marcos Maynard), que estava saindo de outra banda de rock. Quem sugeriu a entrada do Maynard em nossa banda foi o Cesare Benvenuti, que era o guru do movimento do rock em inglês no Brasil. Toda banda de garagem sonhava em gravar um disco e o Cesare, através de seu selo, realizava os sonhos da rapaziada. Todos os conjuntos que tinham seus discos produzidos por ele gravavam covers de sucessos em inglês pois esse era o repertório preferido do público das domingueiras (bailes aos domingos, frequentados pela garotada dos anos 70).

O Nascimento do Grupo - A partir da entrada do Maynard, em 1970, o grupo passou a ter organista e mudou de nome. Foi quando e como nasceu o Lee Jackson. Em 1972 veio o nosso grande sucesso, Hey Girl, música composta pelo Felipe que, antes de gravar a canção, sai do grupo. O Marco Bissi substitui o Felipe na gravação e logo de cara conhece o êxito. Até então nossos palcos eram as domingueiras e os bailes dos clubes. Com a fama e com o êxito vieram convites para programas de televisão e de shows no exterior. Nós não tínhamos idéia de como lidar com isso. Também precisávamos de um interlocutor para negociar com a gravadora. O Marcão era muito amigo do Manoel Poladian, um jovem advogado no início dos anos 70. Eles tinham estudado juntos no Mackenzie. O Poladian então advogava para alguns empresários artísticos da época e organizava festivais nas universidades com artistas internacionas. Ele passou a coordenar nossa carreira e o conjunto Lee Jackson foi um dos primeiros artistas que ele representou.

A Copacabana, nossa gravadora, licenciou nossos discos no exterior e nossas músicas começaram a tocar em outros países. Em alguns deles o sucesso foi apoteótico. O Poladian vendeu então uma série de treze shows na Argentina. Todos em estádios lotados e com um público delirante e incontrolável. O mesmo sucedeu no Chile, logo depois.

Naquela época um artista só gravava um álbum se conseguisse vender muitos compactos simples. Hey Girl foi um sucesso enorme, então, após as turnês no exterior, a gravadora nos chamou para fazer o nosso primeiro LP. Éramos muito imaturos e nos recusamos a incluir Hey Girl no repertório deste primeiro álbum. Parece estranho mas nosso maior sucesso nunca foi incluído num álbum nosso, a não ser em coletâneas que foram lançadas muito tempo depois. Logo após o sucesso de nossa gravação da música em inglês, os Fevers fizeram uma versão da música para o português, que também fez muito sucesso.

Chegou um momento em que começaram a surgir oportunidades de tocar em cruzeiros marítimos. Era ótimo pois aproveitávamos para conhecer lugares diferentes. Nos divertíamos enquanto trabalhávamos. Mas eu tinha outro emprego. Era funcionário da Dow Química, trabalhava no departamento de contabilidade e toda vez que apareciam os contratos para tocar nos navios eu tinha que pedir férias na companhia. Chegou um momento em que eu tive que decidir. Ou a minha profissão de economista ou a de músico. Meu chefe na Dow Química queria que eu continuasse no emprego porque achava que eu seria bem sucedido e poderia construir uma sólida carreira dentro da empresa.

Quando eu estava para ser promovido pedi demissão e fui com a banda para a turnê na Argentina. Aproveitamos o sucesso e levamos uma equipe sensacional para os shows naquele país. Os técnicos de som foram o Gabi e o Eduardo, da Transasom. Os equipamentos e os instrumentos musicais eram os mais modernos e sofisticados. Tudo deu certo. Foi uma euforia. Mas quando voltamos ao Brasil deparamos com outra realidade. Voltamos às domingueiras e aos shows em clubes. O dinheiro era pouco e veio a necessidade de encontrar uma outra atividade profissional que me desse mais segurança financeira.

Outra Carreira - Em 1975, o André Midani queria renovar o quadro de profissionais na Polygram e o Poladian sugeriu que ele contratasse o Marcão (Marcos Maynard) e eu. Fizemos a entrevista e o Marcão foi contratado. Algum tempo depois, em 1976, eu ingressei na Polygram. Apareceu uma vaga no departamento internacional da Polygram em São Paulo e o Marcão, que trabalhava com o Roberto Menescal (diretor artístico da gravadora), me indicou para o cargo. Além dos artistas do cast internacional lançamos grandes projetos na época. Entre eles Saturday Night Fever, com os Bee Gees, Grease, com John Travolta e Olivia Newton-John e também a trilha sonora do filme Evita (levei a fita da música Não Chore Por Mim Argentina, que tinha mais de cinco minutos, até a rádio Excelsior em São Paulo. Ninguém tocava uma música com duração tão longa. O Antonio Celso, que era o diretor da rádio, gostou da música e conseguimos quebrar esta barreira).

O Marcão indicou também o Maluly para produzir os discos dos artistas do núcleo em São Paulo. Passamos a trabalhar intensamente na gravadora e nossas atividades como funcionários tornaram-se mais importantes que o conjunto. Em 1978 surgiu a oportunidade em Portugal. O presidente da Polygram portuguesa tinha sido transferido para a Espanha e fui convidado para assumir seu lugar. Com apenas 29 anos mudei de país, tornei-me o presidente mais jovem da Polygram mundial e deixei definitivamente o Lee Jackson.

Portugal era e continua sendo um mercado muito diferente do nosso. Lá os artistas estrangeiros dominam mais de 80% das vendas. E nossos grandes artistas eram Abba, Dire Straits, Bee Gees, etc. Gal Costa, Maria Bethania e Chico Buarque vendiam muitos discos por lá. Foi uma experiência maravilhosa de quase três anos. Em Lisboa houve uma reunião da IFPI (Federação Mundial das Gravadoras) e nós fomos os anfitriões. Aí fiquei conhecendo todos os presidentes das grandes companhias, inclusive o Alan Davis, presidente da CBS internacional. Sabendo que o Tomaz Muñoz, que então dirigia a CBS na Espanha, seria transferido para o Brasil, onde assumiria o cargo de presidente da companhia, Alan Davis sugeriu que ele conversasse comigo sobre nosso mercado. Fui até Madri, conversamos e o Tomaz me convidou para ser o diretor artístico no Brasil. Eu não estava pensando em voltar. Eu queria seguir na Europa mas não havia espaço em países maiores. Aí aceitei o convite.

Formamos uma nova equipe na qual o Roberto Augusto era o diretor de marketing, o Maynard era o diretor do departamento internacional e o Sérgio Lopes, gerente de serviços criativos. O Maluly passou a produzir os grupos de rock que fizeram enorme sucesso nos anos 80 e mais tarde o Marco Bissi veio trabalhar conosco como label manager do departamento internacional. Todo o Lee Jackson foi contratado pelo Tomaz para trabalhar na CBS. Foi uma fase muito intensa e de grande criatividade. Com sua liderança formou um time muito unido. Tínhamos um elenco nacio-nal de peso (Roberto Carlos, Simone, Djavan, Fagner, Fábio Jr., Dominó, A Turma do Balão Mágico, Zé Ramalho, Amelinha, Elba Ramalho, RPM, Metrô, Rádio Taxi, Capital Inicial, Tokio, entre outros) e muitos êxitos de artistas estrangeiros. Para citar apenas um exemplo, nesta época lançamos no Brasil o discoThriller, do Michael Jackson, o mais vendido no mundo, em todos os tempos. O Julio Iglesias também surge como grande vendedor neste período.

Algum tempo depois do Tomaz Muñoz ter ido para Nova York em 86, para cuidar da área artistica latina da Sony, eu assumi a presidência da companhia no Brasil. Minha equipe era constituída por Roberto Augusto (vice-presidente de marketing), Sergio Lopes (diretor artístico) e Marco Bissi (diretor internacional). Pouco tempo antes o Maynard tinha sido convidado para ser diretor da CBS/Sony no México, aceitou a proposta e se transferiu para lá.

Enquanto eu estive na CBS/Sony, o Roberto Carlos teve seus mais importantes momentos internacionais. Sucesso em toda a América Latina, como já ocorria há muitos anos, ele conquistou também a Europa. Entre 89 e 91, ele foi o artista estrangeiro mais vendido na Espanha. Seu disco gravado em francês vendeu mais de 100 mil cópias na França, onde ele foi uma grande sensação. Depois disso Roberto parou de viajar para promover seus discos no exterior e obviamente ficou muito difícil manter seu sucesso nos mercados que ele não mais visitava. Porém seu prestígio continua inalterado até hoje. Trabalhar com o Roberto Carlos foi muito gratificante para mim. Aprendi muito com ele.

Em 91 fui convidado para ser o presidente da Sony espanhola, onde os dois objetivos eram desenvolver o cast e o repertório locais e introduzir os artistas latinos. Eu tinha certeza que esta combinação seria muito boa para a companhia. Tínhamos um repertório latino muito forte nos Estados Unidos e neste momento surgiu o primeiro fenômeno, Ricky Martin, artista cujo repertório era nutrido pelo Robi Rosa, que é um gênio, com letras de Luis Gomez Escolar, um poeta super moderno.

O primeiro disco do Ricky Martin foi produzido no México, onde a companhia era dirigida pelo Maynard. Quando ele grava o segundo disco, que tem Maria, com produção executiva do próprio Tomaz Muñoz, ele visita a Espanha, convivendo conosco neste período. O sucesso dele foi impressionante e deu início a uma fase muito feliz da Sony na Espanha.

Outro artista, cujo disco também foi feito pelo Tomaz e que também alcançou um sucesso explosivo na Espanha, foi o Chayanne. Com o José Luis Perales ocorreu o mesmo. E a Gloria Estefan foi uma explosão ainda maior. Quando lançamos Mi Tierra, disco produzido por Estefano, chegamos à fantástica cifra de um milhão e 300 mil cópias vendidas. Até então a Glória nunca tinha apresentado resultados expressivos de venda na Espanha.

Enfim conseguimos introduzir os artistas latinos e o sucesso deles na Espanha impulsionou a companhia para cima. A partir daí passamos a dedicar nossa atenção aos artistas do país e a investir no repertório local. O primeira contratada nossa a estourar foi Rosario Flores, cantora e atriz de filmes do diretor Pedro Almodovar. Seu primeiro disco conosco vendeu 600 mil cópias. Em seguida recuperamos a dupla Azucar Moreno, que voltou a vender bem. Monica Naranjo vem logo depois. Eu a contratei quando ela tinha apenas 16 anos. Seu primeiro disco, muito pop, foi rejeitado a princípio. Então ela mudou seu visual inocente de menina. Pintou o cabelo, ficou metade loira, metade morena. E com uma nova imagem ela apresentou-se numa convenção da Sony, quando os mexicanos ficaram encantados. Eles então lançaram o disco no país e lá foi uma loucura. Monica vendeu 750 mil discos e nós então ficamos com uma artista internacional com obrigação de fazer com que ela vendesse também em seu território. Fizemos um novo disco com ela, em Los Angeles, produzido por seu marido Cristobal Sansano. Este álbum vendeu um milhão e 300 mil cópias, repetindo o recorde de Gloria Estefan.

Com estes números tínhamos muita tranquilidade para trabalhar. Nesta situação favorável contratamos e lançamos o maior fenômeno pop da Espanha, o conjunto La Oreja de Van Gogh, que vendeu 700 mil cópias em seu primeiro disco e mais de um milhão no segundo - feito que internacionalizou o grupo. Eles venderam quase meio milhão no México e acredito que mundialmente a venda deste disco deva ter chegado perto de dois milhões.

Em resumo, num mercado em que historicamente 40% do movimento pertencia ao repertório local e 60% à música estrangeira, tivemos ótimos desempenhos de Jennifer Lopez , Celine Dyon, Bruce Springteen, etc.

Na Warner - Em 2001 fui procurado por Iñigo Zabala, presidente da Warner Latina. Ele me convidou para voltar ao Brasil e assumir a presidência da Warner. Eu estava na Sony há 21 anos e me sentia muito bem em Madri, uma cidade encantadora. Tinha conseguido todos os meus objetivos. O óbvio seria continuar na Espanha, porém resolvi aceitar o convite e em dezembro desse mesmo ano voltei ao Brasil e assumi o cargo em janeiro de 2002.

Estudando o perfil da Warner no Brasil, e atento às diretrizes mundiais da companhia, resolvi reestruturá-la. Com a ajuda de um grande time de executivos como o Tom Capone, Sergio Affonso (hoje na WEA/México), Marcelo Maia e Edson Novais pudemos consolidar a Continental e a Warner em uma só companhia e isso foi feito no meio de um mercado em recessão (2002 foi um ano péssimo, 2003 conseguiu ser pior ainda e 2004 só está apresentando resultados melhores em função do DVD, um novo suporte que está ajudando muito o mercado) Renegociamos contratos e hoje temos um cast de poucos artistas nacionais. Da Continental ficamos com os campeões de venda (Daniel, Amado Batista e a dupla Rick & Renner) e com o Rodriguinho, dos Travessos, cujo disco estamos terminando agora). Da Warner continuaram conosco Gilberto Gil, O Rappa, Kelly Key, Detonautas e o Barão Vermelho (e aí está incluída também a carreira solo de Frejat).

Tivemos a felicidade da descoberta da Maria Rita. Ela foi a luz que nos veio. Foi surpreendente sua venda (já atingiu a casa de 640 mil CDs e 120 mil DVDs). E o disco continua vendendo graças a aquecida dada pela participação na trilha sonora da nova novela das 8 da Rede Globo (Senhora do Destino). Com o reconhecimento do GRAMMY Latino (a artista mais indicada ao prêmio, foram quatro categorias) também sua carreira internacional apresentará progressos. Ela foi sem dúvida a grande revelação do ano. E seu álbum é um disco histórico. É uma lufada de ar fresco na música popular brasileira e nós estamos super orgulhosos de participar disso.

Falando em revelação, é necessário citar Gustavo Lins. Ele é um grande compositor. Assinamos seu contrato quando ele tinha apenas 16 anos. Fizemos seu primeiro disco, que já vendeu 35 mil cópias, e ele é uma grande esperança da companhia. Nós também acreditamos muito nos Detonautas. Já passou pelo primeiro disco, que atingiu a casa de 80 mil vendidos. O segundo disco, que saiu há dois meses, já vendeu 35 mil unidades e os rapazes estão com a agenda de shows lotada totalmente. E entre os grandes artistas internacionais da companhia são destaques: Linkin Park, Mana, Madonna, Enya, Red Hot Chili Peppers, Eric Clapton, Green Day, Alanis Morissette, Laura Pausini, Luis Miguel e Alejandro Sanz.

PARTE 3


Terceira parte da reportagem da série sobre os integrantes do extinto grupo Lee Jackson - Sérgio Lopes, Cláudio Condé, Marcos Maynard, Luiz Carlos Maluly e Marco Bissi -, que venderam milhões e milhões de cópias sobretudo depois que deixaram de ser músicos para se tornarem executivos de companhias discográficas. Desta vez, focalizamos o trabalho e a carreira de Marco Bissi, então baterista da banda e atual presidente da unidade latina da EMI Music - aliás o mais alto cargo já ocupado por um profissional brasileiro na indústria discográfica internacional. Com vocês, Marco Bissi!

Marco Aurélio Bissi nasceu em São Paulo, cresceu nos bairros de Pinheiros e Indianópolis, mudando-se na sua adolescência para o Morumbi. Estudou em algumas das melhores escolas da capital paulista (Colégio Dante Alleghieri, Liceu Eduardo Prado) e formou-se em Economia pela Pontífice Universidade Católica (PUC), em 1974. Durante seu tempo de estudante, ouvia muita Bossa Nova e seus ídolos eram Elis Regina, Edu Lobo e Os Cariocas, mas seu sonho era ter um trio como o Jongo, o Zimbo ou o Bossa Jazz.

"Meu pai me ensinou a tocar bateria e eu comecei a tocar quando tinha 16 anos. Era apenas um hobby, pois meu futuro estava mais ou menos traçado. Eu já trabalhava na fábrica do meu pai desde os 15 anos e seria seu sucessor nos negócios."

O pai de Marco, Guido Bissi, nasceu em Firenze, na Itália, em 1926, e veio menino ainda para o Brasil, onde tornou-se um bem sucedido homem de negócios. Dedicando-se à extração e comércio de pedras como granito e mármore, com apenas 24 anos de idade fundou a Granimar S.A. Mármores e Granitos, no bairro do Ipiranga, em 1950. E já estava casado.

"Minha mãe tinha apenas 18 anos e ele 23, quando se casaram. Meu pai era um homem alto, charmoso, muito bonito, mas minha mãe não gostava do seu jeito espalhafatoso. Ele falava muito alto. Mas era galante e conseguiu que ela passasse a gostar dele. Minha mãe me contou que ele lhe deu um anel, disse que queria casar com ela e deu um prazo para ela decidir se aceitaria. Para responder que sim, bastaria colocar o anel no dedo. No dia da decisão, ela devolveu o anel para ele. Meu pai ficou estarrecido. Mas era só uma brincadeira. Ela tomou o anel da mão dele, colocou no dedo e disse que se casaria com ele. E assim começou nossa família."

Marco fala do pai com muito carinho. Percebe-se que ele foi seu herói: "Meu pai exportava granito e mármore para todo o mundo. Desde menino eu viajava com ele para a Europa, Estados Unidos, Canadá - enfim para todos os lugares onde ele vendia as pedras do Brasil. Quando eu tinha 16 anos chegamos a ficar viajando durante cinco meses pelo exterior. Meu pai era um visionário. Quando ele começou a construir nossa casa no Morumbi (o mais luxuoso bairro da capital paulista), na década de 60, pouca coisa existia naquele lugar. Ele fez uma casa que parecia um clube: tinha quadra de tênis, de vôlei, piscina, discoteca, era impressionante."

Marco foi influenciado pelo pai também musicalmente, pois antes de ser industrial, seu pai foi músico. Ele foi baterista profissional durante três anos e tinha uma orquestra que abrilhantava bailes no Tênis Clube Paulista. Gravou cinco discos de 78 rotações. Porém, mesmo neste tempo em que era artista, não deixou de ser negociante. Enquanto tocava bateria, ele também vendia vinil para as gravadoras, a matéria prima com a qual se fabricava o disco naquela época.

"Meu pai não queria que eu fosse artista, queria que eu fosse industrial. Ele me dizia que eu não conseguiria ganhar dinheiro com música, porque o sucesso era efêmero. Mas, contrariando sua vontade, eu comprei uma bateria. Eu já trabalhava na fábrica do meu pai, mas recebia muito pouco. Então juntei todas as roupas que já não usava e vendi para os empregados da fábrica. Assim paguei as duas primeiras prestações do meu instrumento."

A vida de Bissi não era fácil: trabalhando na fábrica do pai desde sua adolescência, tinha que estudar à noite. E ainda tocava nos finais de semana. Aí, as influências já eram outras: Beatles, Rolling Stones, Animals, Focus, Yes, Genesis, Uriah Heep, entre tantas bandas inglesas que então faziam muito sucesso.

"Eu toquei com uns cinco grupos desconhecidos antes de ingressar no Lee Jackson. Meu sonho era tocar no Círculo Militar, onde tocavam as bandas importantes e onde eu nunca havia tocado antes. Aí, coloquei um flyer na loja do Eduardo, da Transasom. Dizia: baterista procura conjunto. O Eduardo lembrou que o Felipe, baterista da banda Lee Jackson, estava deixando o conjunto e me avisou. Eu ouvia o Lee Jackson nas rá-dios e não gostava do que eles tocavam. Eu só queria tocar rock pesado. Mas o Eduardo me lembrou que eles tocavam no Círculo e aí eu fiquei interessado. Quando fui apresentado aos integrantes do grupo, mudei de opinião. Eu já havia visto um show deles antes (quando ainda eram o Amebha) e tinha gostado muito do desempenho. Eram excelentes músicos."

Felipe precisava abandonar imediatamente o grupo para atender o desejo do pai. Assim, ofereceu 500 cruzeiros para que Marco o substituísse. E esta oferta veio num bom momento.

"Com este dinheiro paguei mais uma prestação da bateria. Foi mais um dos motivos pelos quais aceitei tocar com o Lee Jackson."

Os integrantes da banda, Marcos Maynard, Sérgio Lopes, Luiz Carlos Maluly e Cláudio Condé, queriam ver Bisssi tocando para decidir se o aceitavam no grupo. Foram convidados a ir até a casa onde vivia Bissi. Ficaram boquiabertos. Era uma mansão. E quando viram a bateria não podiam acreditar. Era um instrumento importado, daqueles que só se via nas bandas inglesas famosas. Era igual à bateria do Ginger Baker, do Cream.

"Eles ficaram impressionados. 'Que música vocês querem que eu toque?', perguntei. Eles responderam: 'a que você quiser'. Eu coloquei Thick As A Brick, do Jethro Tull, na vitrola. Era um arranjo bem comprido, uma música de sete minutos e toquei igualzinho ao baterista da banda. Quando terminei, falaram que eu podia começar no mesmo dia. Fizeram com que eu assinasse um contrato. Era uma folha de papel verde assinada por todos: Cláudio, Sérgio, Maluly, Marcão e o Dudu, que era o técnico de som e assinou como testemunha. Tenho este contrato até hoje."

Na verdade, o contrato foi discutido por todos e elaborado numa padaria. Quem o redigiu, numa folha de embrulhar pão, foi Marcos Maynard, que tinha acabado de se formar em Direito. Depois foi passado a limpo, com cinco cláusulas, e assinado na folha verde. "Uma das cláusulas dizia que eu tinha que ensaiar por tempo indeterminado. Durante toda a existência do conjunto, acho que ensaiamos só três vezes."

Dois dias depois a bateria foi levada para a casa de ensaio que ficava na rua Henrique Schaumann - onde, na verdade, pouco se ensaiava, mas era lá que os integrantes ficavam a maior parte do tempo em que estavam juntos. "Neste dia eles me disseram que eu ia ganhar cem cruzeiros por show e que no domingo eu já iria estrear no Círculo Militar. Parecia um sonho. Um mês depois gravei Hey Girl, no estúdio Gazeta. Foi um estouro. Era um compacto simples de 33 rotações produzido pelo Cesare Benvenuti e a capa foi criada pelo Sergio Lopes. Foi lançado pelo selo Cash Box, da gravadora Copacabana. Foi sucesso no Brasil, na Argentina, no Chile...".

A partir daí ele passou a viver a rotina de uma banda bem sucedida. Shows todas as semanas, viagens, gravações, programas de televisão, etc. Mas Bissi não abandonou seu emprego na fábrica do pai. Tentava conciliar o trabalho com os estudos e as atividades do grupo. Porém, quando foram assinados os contratos para shows em cruzeiros marítimos ele ficou numa situação difícil.

"Minha namorada na época e minha mulher hoje, Suzana, não queria que eu viajasse porque iria ficar longe dela mais de um mês. Foi também quando meu pai ficou doente. Eu tinha motivos suficientes para não viajar com a banda". Mas Marco inventou uma história dizendo que seu pai iria viajar para a Europa e que ele teria que ir junto. "Como eu já havia viajado várias vezes com meu pai ao exterior, os rapazes acreditaram na história. Mesmo contrariados, levaram outro baterista no meu lugar. Porém quando chegaram a Salvador, o Maynard desceu do navio e encontrou meu irmão, que estava em férias na Bahia. Perguntou ao meu irmão sobre minha viagem e ele, que não sabia da mentira que eu havia contado, disse que não houve nenhuma viagem. Que eu estava em São Paulo. O Maynard ficou muito bravo e ligou para a fábrica. Eu atendi a ligação e ouvi uma tremenda bronca (risos)."

O pai de Marco Bissi morreu em 1973, com apenas 47 anos. O pó do mármore e do granito acabou com o seu pulmão. Nesta época Bissi tinha apenas 20 anos e teve que assumir a responsabilidade da família. Tinha dois irmãos mais novos: Fábio, com 14, e Patrícia com 17 anos. "Passei a trabalhar muito mais porque tive que assumir a direção da fábrica, juntamente com meu tio Cláudio. Era muito triste trabalhar sem meu pai. Algum tempo depois meu tio vendeu sua parte para os irmãos Moredo, que até hoje são os donos da companhia. Eu ainda fiquei lá um bom tempo, mas o mármore não era o meu negócio e eu precisava encontrar meu caminho", lembra.

O Lee Jackson já havia acabado em 1978, com a onda da dance music, que fechou a porta dos clubes para os conjuntos. Marco então procurou outros caminhos e fez bons e maus negócios. Um deles foi a boate Studio 54, no hotel Ferrareto, no Guarujá.

"Perdi muito dinheiro, fiz muitas dívidas. Lembro que tive que vender planos de convênio médico, enquanto procurava outro emprego. Eu me casei em 1980. Minha mulher trabalhava e praticamente pagava sozinha as despesas da casa. Foi quando soube que o Maynard, o Cláudio e o Sérgio estavam trabalhando na Sony. Liguei para o Sérgio e disse que queria trabalhar com eles. Ele falou para eu ir até a companhia. Lá, eu encontrei o Tomás Muñoz e disse a ele: 'tengo muchas ganas de trabajar con música'. Ele me mandou esperar e saiu da sala. Logo em seguida entrou o Maynard, que me contratou naquele dia mesmo. Aí comecei a pagar minhas dívidas. O primeiro a receber foi o Dudu França. Nunca vou esquecer que ele e seu pai acreditaram em mim e foram muito bons comigo."

A trajetória de Bissi como executivo foi muito rápida e bem-sucedida. Trabalhou muitos anos na Sony brasileira, mudou-se para o México onde foi presidente da Universal. Atualmente é Presidente CEO Latin American Region & US Latin da EMI Music. Significa que sob sua responsabilidade estão todos os territórios da América Latina, Portugal, Espanha e o mercado latino dos Estados Unidos. É o mais alto cargo já ocupado por um profissional brasileiro na indústria discográfica internacional.

PARTE 4


Nesta parte, uma reportagem sobre o guitarrista/baixista Sérgio Lopes, atual Vice-Presidente de Marketing / Digital Development and Distribution da EMI Latina. Além dele, faziam parte do quinteto os então ídolos da juventude - e hoje consagrados profissionais do mercado - Marcos Maynard, Cláudio Condé, Marco Bissi e Luiz Carlos Maluly. Sérgio Lopes conta como entrou para o grupo ainda garoto (os demais na época tinham pelo menos cinco anos a mais que ele) e como ingressou na carreira de executivo de gravadoras, tendo trabalhado mais de 20 anos na Sony Music, antes de ocupar o cargo atual na EMI. Sergio fala ainda de curiosidades envolvendo sua vida e carreira, como a compra e a recompra - 21 anos depois - da guitarra dos seus sonhos, uma Gibson ES 335, que ele guarda com carinho em sua casa em Weston, na Flórida, Estados Unidos.

Sérgio Lopes começou muito cedo sua relação com a música. Mostrou tanto talento que seu pai lhe presenteou com uma guitarra e um amplificador. Quando tinha apenas 12 anos, Sérgio conheceu outros dois jovens vizinhos que eram apaixonados por música: Luiz Carlos Maluly e Cláudio Condé. Eles foram atraídos pelo som de seus solos na guitarra, tocaram a campainha de sua casa e perguntaram ao seu pai quem estava tocando. Ficaram surpresos pois esperavam encontrar um adolescente e se depararam com um garotinho. Mas mesmo assim o convidaram para fazer parte do grupo musical Amheba. Afinal, além de bom guitarrista, ele era o único que tinha um amplificador. Sérgio aceitou o convite, autorizado pelo pai, que somente concordou com sua participação no conjunto desde que sua esposa pudesse acompanhar o filho nos ensaios, na garagem da casa de Dadão, outro integrante da banda.

Nesta época, nas horas vagas, ele aproveitava para ensaiar com outro vizinho, chamado Guilherme Arantes, que também era menino e sonhava ser artista. "Só fui encontrar o Guilherme muitos anos depois, quando me tornei diretor artístico da Sony brasileira. Ele já era um artista consagrado e tinha contrato com a companhia", conta.

O Amheba recebeu uma importante ajuda do pai de Sérgio Lopes. Ele era violonista amador e tocava bossa-nova. E apoiava o filho no desenvolvimento de sua carreira. Ele era amigo do "Seu" Alfredo, diretor social do Clube Círculo Militar, e conseguiu um contrato para o conjunto se apresentar nas domingueiras famosas no bairro do Ibirapuera, em São Paulo.

"Meu pai era uma pessoa maravilhosa. Ele sempre me incentivou muito. Eu era bastante jovem quando ele ficou doente. Lembro que quando ele estava no hospital, em 1966, eu comprei a guitarra dos meus sonhos, uma Gibson ES-335, igual a do Johnny Rivers. Queria muito mostrá-la para ele. Mas ele faleceu no hospital sem ver minha guitarra."

Pouco tempo depois, Milton Brando, que era o baixista do Amheba, saiu e Sérgio passou a tocar contrabaixo. Assim, como não tinha mais necessidade da Gibson, vendeu o instrumento para um músico chamado Nanau. Vinte e um anos depois, em 1987, durante uma convenção da Sony em New York, Sérgio foi a uma loja de instrumentos musicais com Roberto Augusto, na época presidente da companhia no Brasil. Encontraram uma guitarra igual ao modelo que ele tinha vendido. Sérgio lembrou-se de sua Gibson e quis comprar a guitarra de novo. Ele nos conta a história: "Coincidentemente, neste mesmo dia encontrei o Nanau na mesma loja. Ele havia trazido uma outra guitarra para consertar e eu disse a ele que queria a Gibson de volta. Ele respondeu que não estava interessado na venda. Três meses depois, me telefonou dizendo que venderia a guitarra. Consegui recomprar a guitarra vinte e um anos depois. Ela está em minha casa em Weston, na Flórida".

Mas comprar instrumentos e equipamentos musicais não era assim tão fácil nos tempos do começo do Lee Jackson. "Como éramos artistas da Copacabana, fomos até lá pedir um adiantamento em dinheiro para comprar toda a parafernália que acreditávamos ser necessária para nossa banda. Lembro que o Rosvaldo Cury, dono da companhia, quando dissemos o valor que precisávamos, abaixou as calças, mostrou as nádegas e disse que queríamos violentá-lo. Foi muito engraçado, mas o Poladian, que era nosso empresário, conseguiu 70% do valor que nós desejávamos. Os outros 30% acabamos tomando emprestados de duas velhinhas, amigas da mãe do Cláudio Condé. Levamos três anos para pagar."

O grupo Lee Jackson fez muito sucesso, como é do conhecimento de todos que estão acompanhando esta série de reportagens. Mas o advento da dance music fechou as portas para os grupos musicais. Eles foram acabando e seus integrantes tiveram que enveredar por outros caminhos. Sérgio Lopes precisou trabalhar em vários lugares ao mesmo tempo para sobreviver com dignidade.

"Foi uma fase muito dura. Eu era músico durante à noite (gravava nos estúdios de São Paulo), criava capas para a Polygram durante o dia (tinha acabado de me formar em Arquitetura, na Universidade Mackenzie, com especialização em Comunicação Visual) e ainda dava aulas de tênis. Em 1976, fui convidado pelo Roberto de Oliveira para ser Gerente Geral da Discos Band. Fui indicado por Roberto Menescal, que então era diretor artístico da Polygram. Foi meu primeiro emprego com carteira assinada."

Entrada na Sony - Três anos depois, Sérgio mudou de ares. Cláudio Condé tinha voltado ao Brasil depois de uma bem-sucedida passagem como presidente da Sony portuguesa. Ele foi contratado por Tomás Muñoz, que era presidente da Sony brasileira, para ser o Diretor de A&R Nacional da companhia. E para o cargo de Diretor de A&R Internacional, Muñoz convidou Marcos Maynard. Mas não teve tempo ou não lembrou de contar para nenhum dos dois que havia contratado o outro. "Quando o Condé chegou ao Brasil, eu o convidei para jantar em minha casa. Convidei o Maynard também. Entre um vinho e outro soubemos que os dois iam trabalhar na mesma companhia", relembra.

Dias depois, Sérgio foi entrevistado por Tomás Muñoz e convidado para dirigir o departamento de Marketing da Sony. Logo em seguida, Tomás conheceu Roberto Augusto e achou que ele também seria uma boa opção para o mesmo cargo.

"Quando eu soube disso, imediatamente sugeri ao Tomás que efetivasse o Roberto Augusto como diretor, que eu não me incomodaria em me reportar a ele. Assim, o Roberto veio da EMI, de lá trouxe o José Éboli (atual General Manager da Universal Music do Brasil) e eu e o Éboli passamos a ser os gerentes do Roberto Augusto. Foi um grupo incrível montado pelo Tomás Muñoz num curtíssimo espaço de tempo. E quase todos os integrantes do extinto Lee Jackson estavam reunidos neste time de executivos. Estávamos juntos eu, o Maynard, o Bissi e o Condé. Faltava apenas o Maluly, que logo foi convidado para produzir os discos de grandes artistas da companhia. No início de 1981, a Sony mudou seus escritórios de São Paulo para o Rio de Janeiro. E os cinco paulistas do Lee Jackson passaram a trabalhar na capital carioca".

De Gerente de Marketing, Sérgio foi promovido a Diretor de A&R Internacional (substituiu Maynard, que foi trabalhar na Sony do México) e depois a Diretor de A&R Nacional (substituiu Condé, que virou presidente da companhia, no lugar de Tomás Muñoz, que por sua vez mudou-se para os Estados Unidos e assumiu a presidência da Sony Latina). Mas o sonho de Sérgio era viver e trabalhar nos Estados Unidos e depois de doze anos morando no Rio, foi transferido para Miami. Trabalhou durante três anos como Diretor de Marketing Estratégico para a América Latina e US Latin Market e em 1996 tornou-se o Vice-Presidente de Marketing Estratégico (para produtos de língua inglesa em territórios onde o inglês não é a língua oficial). Em 2001, após mais de vinte anos trabalhando na Sony, recebeu um convite de executivos da Ogilvy & Mather, uma das maiores empresas de publicidade do mundo, para associar-se a eles na criação da Express Editions, uma empresa dedicada a produtos especiais na área da música e do entretenimento. Lá, além de levar grandes contas publicitárias para agência, como o Latin GRAMMY e a IFPI Latina, desenvolveu muitas de suas idéias, como os álbuns Minha Vida, Minha Música, que tiveram expressivas vendas nos países em que foram lançados. Em 2003, Sérgio recebeu e aceitou o convite de Marco Bissi, atual presidente da EMI Latina, para ocupar o posto de Vice-Presidente de Marketing / Digital Development and Distribution da companhia.

Sérgio Lopes vive nos Estados Unidos já há onze anos, onde é muito respeitado pela comunidade artística internacional por sua brilhante trajetória e por sua capacidade profissional. E foi em seu escritório em Miami Beach, que ele nos recebeu e concedeu esta entrevista.

PARTE 5

Contar a história do grupo musical Lee Jackson, seu sucesso nos anos 70, e de como seus integrantes influíram no desempenho da indústria do disco em nosso país nos últimos 30 anos foram os dois objetivos desta série de reportagens e entrevistas. A história da banda é mais facilmente compreendida a partir de seu principal elo de ligação: o músico Marcos Maynard. E é impossível mostrar o que aconteceu no mercado fonográfico brasileiro nas três últimas décadas sem conhecer a vitoriosa trajetória do executivo Marcos Maynard.

Marcos Macedo Maynard Araújo nasceu em São Paulo em 30 de dezembro de 1949. E viveu sempre nesta cidade, no Jardim Paulistano, até mudarse para o Rio de Janeiro em 1980. Viveu também no México e nos Estados Unidos. Seu pai, Alceu Maynard Araújo era professor e escritor, sendo considerado um dos mais importantes folcloristas do Brasil. Seus livros Folclore Nacional (três volumes) e Medicina Rústica são obras obrigatórias para os estudantes de nosso folclore. Sua mãe, Cecília Macedo de Araújo, era professora no Mackenzie, em São Paulo.

"Meu pai também era compositor. Inesita Barroso gravou algumas de suas composições. Nós vivíamos o tempo todo em contato com a música. Meu pai tocava violão e minha irmã Suzana tocava acordeon". Mas seu entusiasmo pela música começou na Fazenda São João, em Jaú, quando ainda era menino. Devia ter uns onze ou doze anos. Ele era amigo de Vera e Sandra, filhas da dona da fazenda, a "tia" Ilka (Ribeiro de Barros).

"Estudávamos inglês juntos no Yazigi e eu era sempre convidado para passar as férias com elas. Lá, conheci um violonista, o Zeca (Zacarias José da Conceição) que era afilhado da "tia"Ilka e que tocava bossa nova. Eu adorava os shows da Elis Regina. Então pedi que ele me ensinasse violão para que eu pudesse tocar as músicas que a Elis cantava. Eu ficava até altas horas da madrugada estudando e ensaiando com o violão."

Era o fim da década de 60 e os Beatles trouxeram em suas canções uma revolução cultural e de comportamento. Interessados em montar um conjunto musical, Maynard e seu primo Can (Antonio Carlos Macedo) convidaram o Zeca para passar férias com eles em Itanhaém, no litoral sul de São Paulo. Foi quando combinaram criar uma banda. Da bossa nova migraram para o rock. Mas ainda faltava um baterista e Dona Cecília contou ao filho que a mãe do Dudu França (José Eduardo França Pontes) tinha dito que ele estava tocando bateria.

"Fomos então até a casa do Dudu, em Pinheiros (bairro da Zona Sul de São Paulo) e pela primeira vez vimos uma bateria. Era uma Gope amarela. Que coisa mais linda! Aí o Dudu mostrou que era bom na bateria e no violão também. Foi convidado e aceitou fazer parte da nossa banda. Eu era cantor e guitarrista-base, o Dudu, baterista, o Can, guitarrista-solo e o Zeca era nosso contrabaixista".

A banda estava formada mas as condições técnicas do grupo eram precaríssimas. Havia um microfone muito ruim amarrado a um cabo de vassoura, que era o pedestal. Os primeiros amplificadores foram comprados na loja Pirani, no Brás, e foram pagos em 24 prestações e um tio do Maynard (Carlos) foi o heróico avalista.

"A primeira denominação da banda foi Bumbles Bees, que foi logo descartada pois o principal apresentador da televisão da época, Julio Rosemberg (lider de audiência com seu programa musical Na Crista da Onda), não conseguia pronunciar direito o nome do grupo. Estreamos no programa cantando Yellow Submarine e logo depois mudamos o nome do grupo para Colt 45."

Em 1967 gravaram uma demo com duas canções, de um lado Poor Side of Town, com a voz de Dudu França, e no verso Maynard cantando Don't Bring Me Down. "Mas só tenho o lado que eu gravei. Um dia fui limpar o acetato e, acidentalmente desgravei o lado do Dudu."

Um dia, um maestro amigo de seu pai assistiu os ensaios da banda e disse ao professor Alceu que o cantor deveria ser o Dudu. Imediatamente, Maynard passou a ser a segunda voz do grupo.

"Achamos que deveríamos ter um órgão na banda. Meu primo disse que poderia tocar. Compramos um diatrom que era o máximo Foi quando conhecemos um guitarrista chamado Xilo. Estreamos com ele no Clube Círculo Militar, numa domingueira."

Nesta fase, o grupo foi contratado por Abe-lardo Figueiredo (diretor musical do Beco, principal casa de espetáculos de São Paulo, nos anos 60) para substituir os Beat Boys (conjunto argentino que fazia muito sucesso).

"O Abelardo achava que o Dudu, que era o cantor da banda, não devia ficar na bateria. Queria que ele ficasse à frente da banda. Concordamos com ele, contratamos outro baterista e com ele fomos fazer no canal 13 o programa Pernas, a Hora e a Vez, produzido pelo Abelardo e cujas estrelas eram Aizita Nascimento e Norma Benghel. O programa era ao vivo e em nossa primeira apresentação houve um problema. No final do nosso número, o baterista ao invés de ir abaixando o som, como havíamos ensaiado, iniciou um longo solo de bateria. O Abelardo mandou demitir o músico e o Dudu, no mesmo dia, voltou para a bateria".

As músicas de Johnny Rivers faziam muito sucesso e compunham o repertório do Colt 45. Quando ele veio se apresentar em São Paulo, numa festa ficou conhecendo os integrantes da banda e ensinou-os a tocar Summer Rain, uma canção de seu novo disco que não havia sido lançado ainda.

"Lembro que nós cantávamos esta música antes dela ser conhecida no Brasil. No nosso repertório incluíamos também Era Um Garoto Que Como Eu Amava os Beatles e os Rolling Stones, em italiano. E cantamos esta música no programa dos Incríveis, que eram nossos amigos e gravaram a música em português."

O Colt 45 se apresentava em todos os programas de televisão e Roberto Carlos comandava o mais exitoso de todos: Jovem Guarda, dominical e ao vivo.

"Fomos apresentados como os novos amigos de Roberto Carlos. Cantei Nobody But Me. Nesta mesma época, um amigo de meu pai, Brás Bacarin, convidou-nos para gravar na Chantecler um compacto simples em 1967, com as músicas I've Been Loving You To Long e Gimme Some Lovinī. Gravamos apenas este disco e logo em seguida a banda acabou".

Um detalhe curioso ocorreu com o Colt 45. A banda nunca havia tocado no Pinheiros, nem no Paulistano. E seus integrantes não sabiam o motivo porque não eram convidados para se apresentar nestes clubes. Um dia, Maynard conversando com Polé (campeão pan- americano e o melhor jogador de pólo aquático que o Pinheiros teve em todos os tempos), pediu que ele intercedesse junto ao diretor social do clube. Foi quando Polé, revoltado, descobriu que a banda não tinha espaço no Pinheiros porque o Zeca era negro e havia preconceito racial no clube. Por imposição do atleta, o Colt 45 passou a tocar no Pinheiros e, em seguida, no Paulistano.

Memphis - Após o término do Colt 45, o menino Marcão, como já era conhecido Maynard nas febris rodas do rock paulistano, formou outra banda, a Memphis, onde ele era guitarrista. Os demais integrantes da banda eram Nicoli, baterista, Calia, tecladista, Nescau, baixista, Xilo, guitarrista e Dudu França, o cantor.

"Eu já era amigo do Seu Alfredo (Alfredo Santos Filho, diretor social do Clube Círculo Militar) e consegui que ele nos convidasse para tocar nas famosas e concorridas domingueiras do clube. Foi lá que fomos descobertos pelo Cesare Benvenutti, o grande produtor na época de música jovem em inglês. Ele nos levou a um estúdio e começamos a gravar compactos simples para um selo chamado Mammuth. Nós fizemos vários discos com diferentes nomes de bandas: Joe Bridges, Kris Kringle, Beach Band, Baby Joe, etc. Foi quando o Toninho Paladino nos levou para a RGE, onde finalmente a banda gravou (usando seu próprio nome) a música Sweet Daisy em compacto simples."

Antes das gravações com Cesare, o organista Calia saiu da banda e Maynard, em apenas uma semana, aprendeu os primeiros acordes do instrumento para substituí-lo num grande show que seria realizado no Clube Pinheiros com a participação das cinco principais bandas de rock em inglês de São Paulo.

"Mas eu não estava satisfeito com o esquema do Memphis. As namoradas atrapalhavam nossa carreira e resolvi sair da banda. Havíamos gravado também com o nome de Lee Jackson (Oh, Oh, La, La, La). Aí eu disse aos integrantes da banda que queria ficar com o nome pois tentaria formar outro conjunto. O Cesare me falou de uma banda muito boa que não tinha tecladista. Foi assim que aconteceu minha união ao pessoal do Amebha (Luiz Carlos Maluly, Cláudio Condé, Felipe Dib e Sérgio Lopes). Eles concordaram com a mudança do nome o que foi muito bom para nós. Oh, Oh, La, La, La estava tocando muito nas rádios".

O Seu Alfredo preparou a estréia da nova banda do Marcão. O Círculo estava lotado até a boca. "Ensaiamos mais de um mês para a estréia. Depois nunca mais ensaiamos tanto pois após a saída do Felipe Dib, substituído por Marco Bissi, veio o sucesso de Hey Girl.

A partir daí, passamos a tocar muito em shows e o tempo para ensaios deixou de existir".

Maynard convidou um ex-colega de faculdade para ser o empresário da banda. Ele era advogado de artistas, de produtores de eventos musicais e iniciava sua carreira como promotor de shows internacionais.

"Manoel Poladian foi o primeiro empresário do Lee Jackson e o Lee Jackson foi o primeiro artista que o Poladian representou. Começamos juntos. Foi uma parceria que deu certo pois graças a ele passamos a abrir os shows de todos os artistas internacionais que ele trazia ao Brasil (Johnny Mathis, Mungo Jerry, Bill Halley, Earl Grant, The Stylistics, Billy Paul, Donna Summer, etc.)".

Assim a trajetória do Lee Jackson foi uma série de sucessos. Presença constante nos mais populares programas de televisão, shows em todo o país e no exterior, música tocando nas rádios, troféus e um público jovem e fanático. Mas os integrantes do grupo não descuidaram dos estudos e Maynard formou-se em Administração pela FMU e em Direito pela Universidade Mackenzie, ambas em São Paulo.

"Mas eu queria trabalhar no meio musical e mais uma vez o Poladian abriu portas para minha vida profissional. Ele era amigo do André Midani, presidente da Polygram e soube que a companhia estava procurando um produtor musical para trabalhar em São Paulo. O Poladian sugeriu que ele me entrevistasse. Sugeriu também o nome do Italiano (Cláudio Condé). O André Midani mandou-nos as passagens e eu e o Cláudio fomos ao Rio para a entrevista. Fui contratado e, algum tempo depois o Cláudio também."

Assim, a partir de 1975, Maynard começou a produzir discos de outros artistas. "Lady Zu, Tetê Espindola e o Lírio Selvagem, MPB 4 (Antologia da Canção), Quarteto em Cy, Paulinho Nogueira foram alguns dos artistas que produzi nesta época".

No fim dos anos 70 a banda ainda existia, mas seus integrantes se dedicavam mais às atividades nos estúdios. Em 1979, Cláudio Condé foi promovido a presidente da Polygram em Portugal, logo depois do conjunto ter gravado o álbum A Era dos Super Heróis (música tema do LP de autoria do Sergio Lopes e de Paulo Coelho). O Ray (Raymond Mattar) entrou no lugar do Condé e continuamos divulgando o disco, fazendo programas de televisão e shows.

O Fim - Mas no fim dos anos 70 a disco music irrompeu no Brasil e ocupou o espaço destinado aos conjuntos musicais. Um dia, Maynard, Bissi e Ray esperavam Sérgio Lopes nos bastidores do SBT para se apresentar no programa do Carlos Imperial. O Maluly nem ia mais à TV. Ele detestava fazer divulgação. Os três comentavam que este tipo de atividade tomava muito tempo e que atrapalhava o trabalho deles nas companhias. Um deles perguntou: "por que não acabamos com a banda?" Todos concordaram que era o momento do grupo parar. Quando o Sérgio chegou perguntaram o que ele achava do fim do grupo. Ele respondeu: "tudo bem, a banda acabou". Quando já estavam indo embora o produtor do programa alcançou os quatro na saída da emissora e disse que estava na hora da banda entrar.

Eles responderam que a banda tinha acabado. Ele ficou furioso e perguntou: "Como? Ficamos esperando até agora porque não havia chegado um dos integrantes de vocês, deixamos vocês para o final do programa e vocês dizem que a banda acabou. Quando a banda acabou?"

Em coro os quatro responderam: "A banda acabou de acabar". "A banda acabou na hora certa. E deixou saudade. Tanto assim que de cinco em cinco anos nos reunimos, fazemos um show e na última vez que isso ocorreu, em 2002, gravamos um CD e um DVD ao vivo que foi lançado pela Abril Music."

Maynard seguiu na Polygram até que, em 1980, foi convidado por Tomás Muñoz (presidente da CBS brasileira) para ser diretor artístico do departamento internacional da companhia. Foi responsável pelo sucesso no Brasil de artistas como The Police, Julio Iglesias, Nikka Costa, Peter Frampton, etc.

Para diretor artístico do departamento nacio-nal, Tomás Muñoz contratou Cláudio Condé que assumiu a vice-presidência da companhia em 1982. Maynard ocupou então o seu cargo e revelou o RPM e a Turma do Balão Mágico, dois fenômenos de vendas.

Em 1989, Maynard foi para o México, onde foi o Diretor de Marketing e Sub-Diretor Geral da Sony Music local até 1992. Contratou grandes artistas como Ricky Martin, Alejandro Fernandez, Emmanuel, Ricardo Arjona, Magneto, Yuri e Garibaldi. Fez de Ana Gabriel a maior estrela da música latino americana e convenceu Vikki Carr, que havia decidido encerrar a carreira, a continuar gravando e ela ganhou dois Grammy. Também convenceu Roberto Carlos a ser produzido por Roberto Livi e esse disco, além de vender um milhão de cópias no México, deu a Roberto Carlos o Grammy pela canção Si El Amor Se Va. Nesta mesma época, articulou o histórico dueto entre Vicente Fer-nandez e Roberto Carlos com a canção Aunque Mal Paguen Ellas. Sua atuação dinâmica levou a companhia ao primeiro lugar de vendas.

"Cheguei como Diretor de Marketing, logo em seguida assumi a direção artística nacio-nal e internacional. Pouco depois, tive que me responsabilizar também pelas vendas, business affair, editora, etc. Enfim eu dirigia toda a companhia no México".

Em novembro de 92 foi convidado por Manolo Diaz para assumir a presidência da Polygram no Brasil.

"A companhia estava destruída. Investi na crise. Arrumei o catálogo. Levantei as vendas, estruturei a empresa e apoiei os artistas contratados. Maria Bethânia explodiu com o disco As Canções Que Você Fez Pra Mim. Vendeu um milhão de cópias. Chamei Roberto Livi para produzir o disco de Chitãozinho e Xororó (400 mil discos vendidos). Transformei Sandy & Junior, de dupla infantil em um fenômeno pop; convenci Cássia Eller a ser produzida por Guto Graça Melo e daí nasce seu hit inesquecível Malandragem, de Cazuza; aproximei Leila Pinheiro de César Camargo Mariano; lancei Fina Estampa com Caetano Veloso, gravei com Simone um disco de Natal que vendeu mais de um milhão de cópias; deixei pronto um disco de Zizi Possi cantando em italiano que foi lançado pelo meu sucessor, Marcelo Castello Branco".

E trouxe para o cast: Zeca Pagodinho, Paulo Ricardo, Roberta Miranda, Rita Lee, Marina Lima, entre outros. Revelou novos artistas como Netinho, Banda Eva, Banda Cheiro, É o Tchan, Timbalada, Chico César, Ivete Sangalo e todos mostraram-se grandes vendedores de discos. Na área internacional foi o responsável pela entrada e sucesso no Brasil de artistas como Bryan Adams, Bon Jovi e Enrique Iglesias.

"Levei a companhia ao primeiro lugar no market share e a mantive assim durante três anos. E a equipe que eu montei continuou liderando o mercado nos últimos oito anos provando que eu apostei nos profissionais certos".

Em janeiro de 97, foi convidado por Alain Levy e Manolo Diaz para ser o presidente da Polygram US Latin e vice presidente do Cone Norte (México e Estados Unidos). Contratou Paulina Rubio, Emmanuel e fez o CD de José Feliciano, Señor Bolero, indicado ao Grammy. Com a venda da Polygram para a Universal, em março de 1999 voltou para o Brasil para criar uma gravadora saindo do nada. Talvez o seu maior desafio profissional até então.

"Foi assim que nasceu a Abril Music. Não tínhamos catálogo, nem equipe de trabalho, nem artistas contratados, nem editora. E em poucos meses chegamos a ocupar por dois meses o primeiro lugar de vendas no Brasil".

Artistas conhecidos apenas regionalmente como Frank Aguiar, Edson & Hudson e Bruno & Marrone foram transformados em astros de sucesso nacional e venderam milhões. Artistas que estavam no ostracismo voltaram à tona e passaram a vender centenas de milhares de discos. Foram os casos de Titãs, Ultraje a Rigor, Ira!, Capital Inicial. Novos artistas foram lançados e rapidamente alcançaram a consagração popular como Falaman-sa, Rastapé, CPM 22, Los Hermanos e Maurício Manieri. Internacionalmente, Ivan Lins foi indicado para o Grammy Latino e Rita Lee bateu recordes de vendas em vários países com seu Bossa n' Beatles.

Dezenas de discos de ouro, platina, platina dupla e diamante atestaram uma gestão das mais produtivas em toda a história da indústria musical de nosso país. O encerramento da Abril Music foi uma discutida decisão de seus proprietários que não acreditaram no mercado fonográfico brasileiro.

Em 2003, Marcos criou sua própria empresa, a Maynard Enterprises e, em parceria com a Som Livre, lança o CD Balacobaco, de Rita Lee com canções inéditas, cujo êxito persistiu até hoje. Contratou Simone e produziu um disco primoroso onde ela interpreta canções inéditas compostas especialmente para ela por Ivan Lins e seus principais parceiros. Contratou também Rastapé e Roberta Miranda, trazendo-a de volta ao mundo sertanejo.

"Em maio de 2004, o Bissi (presidente da EMI Latina) me convidou para assumir a presidência da EMI Music do Brasil".

Convocação irrecusável para um inveterado jogador de pólo aquático, campeão sul-americano, que treina todas as semanas; para o músico que se formou em Direito e Administração de Empresas, que foi e continua sendo um grande produtor musical; para o líder carismático que encanta os artistas com sua percepção da sensibilidade e do talento e que seleciona os melhores profissionais para sua equipe; para o executivo que sempre chega aos primeiros lugares, sem dúvida, a vida é uma partida que se disputa com empolgação e cujo objetivo único é a busca de vitórias.