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Entrevista

Evinha
Divulgando o lançamento de seu primeiro trabalho solo em mais de 10 anos, Evinha esteve no Rio em abril de 1999 e recebeu Marcelo Fróes para uma entrevista exclusiva no bar da piscina do Rio Palace Hotel, onde estava hospedada. O Trio Esperança estava num ótimo momento, lançando também um novo CD - o terceiro após a volta no início dos anos 90. Evinha fala abertamente das origens da família Correa, da história do Trio e de sua carreira solo.


Fale-nos primeiramente das origens da família.
Nós nascemos quase todos na Gávea, morávamos no alto da Gávea. Eu nem lembro direito, porque a gente se mudou de lá quando eu tinha 2 ou 3 anos. Papai trabalhava no banco e minha mãe nunca trabalhou, porque só fez filho... um atrás do outro: Roberto, Ronaldo, Renato, Regina e Mário, todos com diferença de 2 anos entre cada um. Depois, do Mário pra mim tem quase 4 anos e de mim pra Marisinha tem 5 anos e meio. Nós todos morávamos juntos, em tudo quanto é canto, e eu não me lembro muito dessa fase... mas nós moramos em lugares, os sete apertadinhos. Meu pai ganhava pouco, sabe, mas eu agora eu vejo que a gente teve uma educação muito severa... e isso ajudou, compensando a falta de grana, entendeu? Eu acho que a gente nunca teve dificuldade financeira braba, de qualquer forma. Mas houve críticas severas, diziam que meus pais exploravam criança... mas isso nunca aconteceu, porque meus irmãos começaram a cantar na escola e nós, as menores, vimos isso e quisemos cantar também. Nós do trio nunca soubemos ler música, embora os Golden Boys saibam. Tá no sangue, a gente queria ser artista e cantar. Acabamos tendo 7 cantores na família e então, nesse tempo todo, a família Correa foi críticada por aqueles que tinham dúvidas se a coisa era realmente espontânea para todos. Mas eu posso dizer que foi sempre espontâneo, sempre...

Seus pais enfrentaram problemas concretos?
Junto à opinião pública, com matérias etc, eu não sei, mas com Juiz de Menores o tempo todo. Eu me lembro, às vezes eu chegava na TV Record e meu pai tinha que apresentar imediatamente aquele papel enorme... o alvará do Juiz de Menores.

Como era pra vocês fazerem show?
Nós fazíamos muito show no Cordão do Bola Preta, eu me lembrei disso hoje... passando lá pela Cinelândia. A gente podia cantar à noite, pra mim era festa, mas eu me lembro que meus pais e meus tios nos cercavam o tempo todo no camarim.

Como foi sua infância?
Eu brincava, eu tinha brinquedos e brincava muito com a Marisinha... mas, pra mim, o que era normal era viajar. Meus pais controlavam o dinheiro, pra não me estragar... e eu pedia quando quisesse. O cachê da Marisinha era um brinquedo, ela teve de tudo... mas também vivia no estúdio com a gente. Eu tive uma infância normal, mas eu me lembro que repeti o segundo ano ginasial... no auge da Jovem Guarda. Nós morávamos numa casa no Engenho de Dentro e depois viemos morar em Copacabana, quando os Golden Boys já estavam casando. Nós tivemos uma vida especial, minha valsa de 15 anos foi com Roberto Carlos!

Como foi a fase inicial do Trio?
Marizinha foi a primeira a gravar, porque queria gravar disco como os Golden Boys. Não sabia nem falar ainda, mas gravou aquele primeiro 78 rpm dela lá pela Polydor - antes mesmo do trio ser contratado pela Odeon. Foi José Messias quem nos descobriu em seu programa de calouros, e nos levou pro estúdio da Odeon na Av. Rio Branco - onde gravamos ao vivo, em dois canais. Eu me lembro que nosso primeiro 78 rpm foi O Menino do Amendoim, música dele, mas não vendeu nada... Dez discos, no máximo, pros meus irmãos. Eu tinha 7 anos, era muito pequenininha. Até 1969, a gente gravou todos aqueles discos quase infantis, com muitas versões etc. Eu era a solista do trio e fiquei até 1969, quando saí... ou melhor, quando "fui saída" do trio. A direção e o Renato, que era mais ou menos nosso produtor, resolveram produzir um disco solo meu. Gravamos Casaco Marrom em compacto, aí eu saí e o trio continuou. Marisinha entrou no meu lugar...



O teu lançamento solo já era algo falado com um ano de antecedência.
É verdade, mas eu acho que foi alguma coisa da Odeon... que queria lançar uma nova cantora etc. Eu não sei o que aconteceu com muitas das pessoas da Jovem Guarda, porque perdi o contato e tal... mas volta e meia tenho notícias através dos meus irmãos, mas na época o movimento estava acabando. Há mais de 20 anos não vejo a grande maioria, então a Jovem Guarda pra mim não era nem um movimento. Eu saía do colégio, de uniforme, e meu irmão sempre me pegava e eu ia de uniforme pra São Paulo. Depois, bem mais tarde, eu vim a saber que a gente era muito criticado... por talvez sermos "alienados" etc, mas pra mim era pura brincadeira. Então agora, com o tempo, é que eu sei o quanto fomos criticados. Pra mim era uma maravilha fazer o programa do Roberto Carlos em São Paulo. Todo domingo a gente pegava avião pra São Paulo. Pra mim a Jovem Guarda era pegar avião, ir pra São Paulo, chegar lá e cantar. E hoje estou aqui, hospedada num hotel situado justamente onde ficava a TV Rio. Eu gostava era de participar das coisas, afinal a gente era novo demais pra ter algum tipo de responsabilidade. Eu nem era adolescente, minha irmã Regina ainda era menor... e o Mário também estudava. Marisinha era muito pequena, tinha feito aquele disco infantil lá atrás e foi preparada durante os anos 60, para finalmente me substituir no início dos anos 70... e depois estourar com aquele compacto, Mais Uma Vez.

E você ainda era menor, ao ser lançada?
Sim, mas meu pai me emancipou aos 17 anos... porque eu queria fazer cursos intensivos, pra entrar na faculdade... Mas aí rolou o Cantiga Para Luciana e aí eu mergulhei de vez na carreira solo.

O surgimento do Trio Ternura, ainda nos anos 60, assustou vocês?
Foi engraçado... Eu os conheço bem - Sarinha, Jurema e Robson, que depois viraram Quinteto Ternura. Minha irmã Regina e Sarinha são muito amigas, e na verdade a Sarinha faz backing neste meu novo CD. A gente nunca foi rival. Na época, eu achava isso engraçado... também... porque foi a imprensa que inventou a clonagem: "Trio Ternura, os inimigos do Trio Esperança". Foi sempre assim, o tempo todo foi assim... e a gente nunca teve animosidade alguma. A gente os conhecia desde pouco antes do BR-3, que eles cantaram com Toni Tornado. Mas o papai e os pais deles se conheciam, então não havia animosidade alguma. Mas o pessoal inventou. Era engraçado, porque eram duas meninas e um menino... na mesma posição no palco e tal. Mas nunca teve nada, tanto que a gente se vê de vez em quando.

Como foi a sua saída do trio?
Eu saí de vez e emendei de vez numa carreira solo - fazendo quatro ou cinco LPs até 1977, quando fui pro Japão por três meses com a orquestra do Paul Mauriat. Eles vieram gravar um disco aqui em 1973 e o Gerard, que hoje é meu marido, ele era diretor musical da orquestra... A gente fez coro no disco e eu o conheci naquele momento.

Vocês faziam muito coro nos discos de outros artistas, mesmo já sendo artistas de primeira grandeza.
Por que não, né? Em primeiro lugar nós somos músicos, apaixonados por música... Então que seja assim, sabe? Mesmo agora, por exemplo, as pessoas me cumprimentam... mesmo 20 anos depois de ter ido embora. Isso me emociona, eu senti isso agora. Nossa família sempre gostou de cantar, de fazer coro, de fazer vocal. Até agora a gente se reúne os sete e canta junto, como a gente fazia antes. Isso é normal.

Por que o Trio parou na mesma época que você foi embora?
Ronaldo é formado em Direito... e o Mário formou-se em Veterinária e também professor de inglês. Ele sempre tendências intelectuais, e o grupo foi parando automaticamente. A Regina estava com dois filhos pequenos e a Marisinha foi fazer discos solo. Na época, Claudinha Telles substituiu muito a Regininha em shows... e no estúdio também. Quando eu fui pra França, Marisinha foi visitar-me muito... porque a gente sempre foi muito grudada. A gente passou a fazer muito show... no Japão, na França... cantando com a orquestra, pois sempre havia um momento de música brasileira. Regina chegou a participar de duas excursões, mas depois desistiu. Fizemos Japão com a orquestra do Paul durante dez anos, eu acho... Eu gravei vários discos com eles sozinha, mas com Marisinha só em shows. Quando minha filha nasceu, eu parei de viajar... Fiz alguns compactos, por causa de novela etc, mas eu não queria... pois não conseguiria dar conta. Fiquei dona de casa por muito tempo, só viajava acompanhando o Gerard. Marisinha também morava lá, pois casou-se com um francês. A gente cantava muito em casa... e só, às vezes com Regininha - que nos visitava muito. Em 1988, eu comecei a encher o saco das duas e aí a gente começou a cantar numa boate de brasileiros para 50 pessoas em Paris. Montamos um trio, que não era o Trio Esperança (sem Mário), e fomos cantar MPB... pelo couvert artístico. Era tão legal, mas pra gente era apenas uma brincadeira. Gerard tocava piano, acompanhando a gente. Como a vida é engraçada, um cantor francês louco por música brasileira, começou a ir pra lá toda noite... durante três semanas. Ele nos convocou pra ser coristas dele e a Regina desistiu de voltar. Ficamos um ano e meio com ele, até meados de 1990. Resolvemos dar um nome como Trio Correa, mas acabamos usando o nome do Trio quando fizemos aquele disco à capela pra Philips francesa. Não tínhamos formação pra cantar à capela, mas tínhamos ouvido apurado e nos disciplinamos. Aprendemos a respirar, a administrar a distância do microfone etc. Até lá, os franceses não sabiam que tínhamos uma história anterior. Nós mostramos os discos e eles acharam engraçado. A gente emendou, porque esta carreira nós não esperávamos que pudesse rolar. Seria legal se acontecese alguma coisa com o disco, sem esperar nada na verdade.

Mas o disco é cheio de participações.
Sim, mas é uma história. Você imagina Caetano, Ivan, Djavan e Milton, que conheciam o trio de antes... embora não tivessem convivido com a gente na época. Eles não conheciam nosso repertório, mas o Gerard sugeriu que convidássemos alguns deles para uma participação. A gravadora lá acreditou na gente e o primeiro contactado foi o Caetano. Ele foi todo gravado aqui, com muito pouco instrumento. Convidamos uns oito compositores, que estavam no disco. E todos aceitaram. A gravação foi realizada no Impressão Digital, com o Mazola. Todos foram de muita gentileza conosco. Quando a música tocou na rádio francesa, foi muito emocionante... Começamos a vender e a ficar mais conhecidas, então fui tudo aos poucos. Fizemos TV, shows cheios etc, e um ano depois saiu aqui. Vendeu quase 300 mil cópias somente na França... e o "Segundo" vendeu 120 mil, o que pra França já é bastante. Não tocou muito em rádio, mas a turnê ajudou - França, Suíça, Bélgica e Alemanha.

E quanto a este novo álbum solo, tantos anos depois?
Pois é, a gente tava sempre com o Trio - fazendo show lá. Eu acho o maior barato fazer show. Mas eu tava com isso na cabeça, eu queria fazer esse disco, que eu pensava fazer há muito tempo. Este é o meu primeiro disco solo pela PolyGram francesa, embora o Trio Esperança já venha lançando discos por lá. Enquanto o Trio está lançando um lá, eu estou lançando um aqui... (rindo) Ano passado apareceu esse pequeno intervalo na carreira do Trio, pra nós pensarmos no repertório do terceiro álbum, que está saíndo agora. E eu falei "vou fazer agora". Eu tenho contrato como cantora solista também, nos anos 80 eu já havia feito um compacto solo lá. Fizeram um contrato e eu gravei um compacto cantando um calypso francês, embora detestasse a música. Fez um certo sucesso, tive que cantar na TV vestida de uma maneira mais exótica, coisa que eu também não gostava, então foi daí que ficou a vontade de fazer algo bacana. Nesse meio tempo, o Trio acabou sendo contratado pela mesma gravadora e meu contrato individual ficou suspenso por todos esses anos. Agora, com o Trio estabelecido, eu desejei fazer o disco e liguei pra gravadora - pedindo a liberação do meu contrato individual. Eles não quiseram liberar, preferiram produzir o disco pro mercado brasileiro. Foi melhor assim, o disco foi feito lá e cá. As vozes, o coro e algumas percussões foram feitas aqui. Meus irmãos, naturalmente, participaram. As duas também curtiram a idéia. Quanto ao Trio, este novo - gravado logo depois do meu - está saindo na seqüência. Uma loucura! No caso do disco solo, está saindo primeiro aqui... e depois sai lá, pra não atrapalhar o do Trio - que por sua vez vai sair aqui mais pra frente. Este disco do Trio é uma volta ao mundo, por isso se chama "Nosso Mundo". Nós sempre gostamos de pesquisar bem o repertório, e nesse caso resolvemos cantar apenas quatro músicas brasileiras. Eles aceitaram numa boa e ficou muito bom. Tem música em japonês, em espanhol e naturalmente três músicas francesas... e uma participação muito especial de Charles Azsnavour, cantando La Boheme conosco.