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Entrevista

Golden Boys



No dia 15 de junho de 2005, às vésperas da estréia do show Jovem Guarda 40 Anos no Canecão (RJ), que inaugurou a turnê em grande circuito após passagens por diversos SESCs, os Golden Boys concederam uma entrevista exclusiva a Marcelo Fróes antes de iniciarem o ensaio geral no Estúdio Floresta, no bairro do Cosme Velho. Ronaldo Correa acabou não participando, mas Renato Correa (RN) e Roberto Correa (RB) estão no bate-bola abaixo.

Como vocês têm conduzido a carreira nos últimos anos, independente de disco etc?
RN - Teve uma fase em que a gente ficou um pouco afastado de shows. Eu fui trabalhar em gravadora, eles continuaram... até mesmo como dupla, também trabalhando em estúdio... fazendo vocal etc.

Vocês chegaram a ser apenas uma dupla, é?
RB - Sim, fizemos um compacto duplo pela PolyGram. Não tem nem foto na capa.

RN - Parar nunca paramos, sempre fizemos um showzinho de vez em quando. Nós chegamos, quer dizer eles chegaram a gravar em dupla... mas aí, num determinado momento, nós resolvemos voltar a fazer shows mesmo, mais frequentemente. Um dia, conversando com eles, eu falei que havia um bar ali rua Siqueira Campos - chamado Let It Be -, que eu tinha ido conhecer com o Tavito. A gente é muito amigo e ele me chamou pra ver o show do Terra Molhada. Isso já tem mais de 20 anos, em 1984. Eu achei o lugar pequenininho, mas achei tudo tão maravilhoso... que eu sugeri que nós voltássemos a atacar em lugares assim.

Foi aí que vocês fizeram aquele LP pra CBS, "O Sonho Não Acabou"...
RN - Aí é que tá a história, nós íamos fazer aquilo mais por curtição. Mas a mídia veio toda em cima e parou a Siqueira Campos. Isso detonou nossa volta à estrada, vamos dizer assim. Foi uma volta, porque já não fazíamos tanto show. E foi daí que veio o convite pra fazer esse disco, embora a intenção não fosse a de gravar. É justamente como você falou, não depender de disco pra poder fazer as coisas.

E aí vocês fizeram esse e aquele de 1986, com Don't Worry Baby e Rock'n'roll Lullaby.
RN - Fizemos aqueles dois iniciais, depois demos um tempo e fizemos o "Ao Vivo", que saiu pela Som Livre. E o último foi o dos festivais. Mas o disco não é a coisa principal pra nós, entendeu? Pra nossa surpresa, não há necessidade de disco. O nome Golden Boys é importante... O mesmo vale pro Trio Esperança e pra Evinha também. Agora, com o DVD, é que a gente já está começando a pensar em fazer um registro.

Independente desta turnê dos 40 Anos com Erasmo, Wanderléa e Fevers, que também é um DVD em potencial, vocês também precisam fazer um DVD.
RN - É, um individual e quem sabe um da família toda, né? Golden Boys e Trio Esperança juntos... Talvez saia primeiro o da família, antes de você ter um só dos Golden Boys.

RB - Se depois a gente vai conseguir cair na estrada junto eu não sei, mas o DVD a gente tem vontade de fazer.

Com o Mário também? Desde que ele saiu, aparentemente nunca mais fez nada. Parece que ele não quis nem saber.
RN - Olha, ele ainda fez muita coisa em estúdio... e até em show, quando um ou outro dos Golden Boys ficou doente. Ele se dedica muito mais ao curso de inglês, até porque agora ele é dono de duas filiais do CCAA - em Copacabana e em Ipanema.

RB - Mas ele gosta, ele adora isso... e não perde uma oportunidade. Quando a gente tá cantando aqui no Rio, ele com certeza está na platéia... tomando seu choppinho. E às vezes ele não agüenta e a gente também não agüenta e chama ele no palco, e a gente canta Festa do Bolinha, Filme Triste e vai por aí.



De vocês três, Renato foi o único que não fez disco solo, não?
RN - É, eu não tenho muito essa coisa... Eu só faço solo nos bastidores.

RB - Você tem o meu disco? Putz... É impressionante!

Vocês parecem ter voltado de vez em 1984 e desde lá é como se nunca mais tivessem parado, independentemente da agenda de shows ou do lançamento de discos.
RN - Não, a gente não parou mais. Um ano ou outro ano é mais devagar, mas a coisa vem num crescendo.

Depois dessa volta, a saída do Waldyr foi por uma questão de saúde?
RN - Olha, a princípio foi. Ele teve um problema de voz, me parece que ele teve dificuldade de readaptação... e chegou um momento em que ele ficou meio sem voz. Ele deu uma parada, pra se cuidar... mas aí voltou e não conseguiu engrenar de novo, chegando a um ponto que não tinha jeito. Ele teve que sair e ele mesmo chegou à conclusão disso.

O último disco foi o CD dos festivais. Algum motivo em especial para este projeto? Foi pra chamar atenção para o fato de que vocês realmente não são apenas de Jovem Guarda, afinal participaram ativamente da era dos festivais?
RB - É, no começo da nossa carreira o repertório era bem diversificado. E tanto o pessoal da Bossa Nova, quanto o pessoal da nossa Jovem Guarda, eles gostavam de ter a gente nos shows e nas gravações. A gente gravou com muita gente... Elis Regina, inclusive. A gente fez muito backing vocals pra MPB, Bossa Nova etc.

O primeiro LP de vocês saiu em 1959. Quando a Jovem Guarda aconteceu, vocês já tinham seis anos de estrada. Essa rotulação como um "grupo de Jovem Guarda" é até injusta, porque vocês são anteriores e fizeram muito depois.
RB - Sim, nós começamos um pouco antes... mas acontece que realmente o movimento foi tão grande, que acabamos migrando pra Jovem Guarda e sem dúvida fomos realmente revelados por ela. Não somente nós, como todos os outros que já existiam e que estão até hoje na estrada.

RN - Erasmo e Wanderléa começaram antes, o próprio Roberto Carlos também. Na verdade, todos já vinham trabalhando desde antes da Jovem Guarda.

O que vocês acham daquela fase inicial na Copacabana?
RB - Eu fico ouvindo e, tecnicamente, é claro, os discos são muito rudimentares... mas a gente já observa que aquela capacidade que a gente tinha de harmonizar está bem presente ali. A gente já sabia que a coisa ia evoluir, entende?

RN - É aquele negócio, a gente ainda não tinha achado um caminho específico ou um repertório específico. Era um repertório totalmente eclético, mas não é porque somos nós não... mas a qualidade vocal já estava ali.

RB - As nossas gravações originais daquela época não têm saído de forma original, mas saem em coletâneas remasterizadas. Até nossa primeira gravação, Meu Romance Com Laura, já apareceu em CD. O Renato ainda tinha voz infantil.

Vocês também passaram pela Polydor.
RB - Foi relâmpago, nós fizemos dois ou três discos de 78 rpm. Go Away Little Girl, Sukiyaki etc.

Mas Marisinha também gravou lá, na pré-história do Trio Esperança.
RN - É verdade, com uma música de Natal que eu fiz.

Embora vocês fossem veteranos, eles abriram caminho pra vocês na Odeon. Eles abriram caminho pra vocês serem contratados?
RB - Eles começaram a vender disco, de repente... na verdade eles vendiam muito mais disco que a gente. Milton Miranda nos contratou.

Que lembranças você tem, Renato, da época em que começou a produzir? Vários de vocês começaram a produzir: Miguel e Pedrinho, dos Fevers, além de você e do Ronaldo.
RN - No meu caso foi o Milton Miranda quem me estimulou, mas tem uma coisa. Quando esse trabalho começou na família, o último a entrar fui eu. Ronaldo cantava sozinho, depois o Waldyr e o Roberto fizeram uma dupla e por último eu entrei. E eu me lembro que na época eu é que ficava perturbando, só ouvindo e dando palpites. Eu acho que essa qualidade de produtor já vem desde essa época... e, quando nós fomos pra Odeon, o Milton deve ter observado que eu estava sempre falando pra caramba sobre a produção dos discos. Ele me chamou: "Poxa, por que você não vem produzir?" Eu falei: "Não, eu não sei fazer isso!" Ele respondeu: "Sabe, você sabe... mas você não sabe que você sabe!" E aí, um tempo depois, seis ou oito meses depois, a Evinha foi fazer carreira solo... e eu falei que ia produzir. Quando eu entrei na sala dele, ele já falou: "Já sei que você veio pedir pra produzir o disco da Eva!"

A saída dela foi traumática?
RN - Não, o que aconteceu foi que a nossa irmã mais velha ficou grávida. O Trio ia parar... por uns 5 ou 6 meses. E a Odeon, que já vinha assediando a Evinha pra gravar sozinha, mas com a parada ela acabou topando. O Trio deu uma parada de seis ou mais meses, a Eva estourou e aí, na volta, a Marisa já estava no lugar dela.

Vocês falaram há pouco sobre a idéia de gravarem um DVD da família Correa, mas nos anos 70 - pouco antes da saída de vocês da Odeon - chegou a ser agendado o lançamento de um LP do Goldenrança, que seria um projeto dos dois grupos juntos.
RN - Existia esse projeto... e existe até hoje. Mas a gente saiu da companhia... O projeto existiu lá, mas ficou nos dois ou três primeiros arranjos do maestro Gaya. Eu não sei o que houve, mas a gente foi saindo... o Trio parou... e os Golden Boys foram pra Polydor. Eu me lembro vagamente disso, na época eu era produtor contratado pela Odeon e realmente havia essa anotação.

RB - Eu me lembro que tinha até logotipo, parecia uma coisa meio gótica. Interessante, aquilo. Será que ainda existe?

Renato, você produziu muita gente... Elis Regina, inclusive.
RN - Se essa fase de Jovem Guarda foi legal na época e eu tô achando também agora, a mesma coisa posso dizer de minha fase como produtor.

Existia tanta animosidade entre a Jovem Guarda e outros estilos nos anos 60, que parece-me incrível que Renato Correa tenha produzido Elis Regina e outros nomes. Isso se deve a alguma "concessão" pelo fato de vocês terem participado de festivais?
RN - Essa história de guerrinha, inventada pelo pessoal do Fino da Bossa, foi resolvida naquela época mesmo. Pode até ter havido um mal estar entre Jovem Guarda e Bossa Nova, mas foi coisa de um mês ou dois. Elis e Roberto apareceram juntos na capa da revista "O Cruzeiro", selando o fim do problema. Ela sempre foi uma pessoa de cabeça bem aberta... e tem uma outra coisa: nós não conhecemos a Elis do Arrastão; nós a conhecemos nos programas de rádio em Porto Alegre, quando ela cantava outro tipo de música. Então já era uma simpatia antiga, entendeu? Nós estávamos no mesmo barco. E, no caso da produção, eu era gerente de produção da Odeon - cujo cast fora dividido em três: Miguel Plopschi, Mariozinho Rocha e eu. No caso da Elis, quem a contratou foi o Mariozinho... mas ele saiu logo depois e eu é que fiquei de diretor dela, mas eu não fui bem o produtor do disco. Agora, eu realmente produzi Gonzaguinha, Clara Nunes, Roberto Ribeiro, Fátima Guedes e vários aí... Fiquei 14 anos, de 1970 a 1984.

Sua saída ocorreu no mesmo ano da volta dos Golden Boys.
RN - Mas eu ainda fiz muita coisa, continuei produzindo Gonzaguinha na EMI... e como free lance produzi Zé Ramalho, Tânia Alves, Leila Pinheiro, Neguinho da Beija Flor etc. Só de Beth Carvalho, eu produzi 12 discos...

... e, mesmo assim, recentemente ela deu uma entrevista malhando a Jovem Guarda. Eu pensei: "Pôxa, que ingratidão!"
RN - Não li, mas nem preciso... porque eu convivi com ela durante 12 anos, como produtor dos discos dela... Ela tem sua opinião, pode ser que pegue pesado à vezes, mas ela pegava pesado comigo no nosso dia-a-dia mesmo. Mas sempre houve diálogo. No caso da Elis, você falou em "concessão" mas... você vai me desculpar a falta de modéstia, mas é uma questão de competência nossa...

RB - ... mas é claro!

A questão da concessão que eu falei era mais uma questão política: "Será que a crítica vai entender?"
RN - No caso de política ou de ideologia, cada um sabia e respeitava a do outro... mas ali o nosso objetivo era fazer o disco. Tinha que ser bem feito... e eu tenho o maior orgulho dos discos que eu fiz da Beth, além de ter trabalhado com ela.

Você deve ter uma boa parede com discos de ouro e de platina, não?
RN - Olha, sabe de uma coisa, eu só não tenho porque esse negócio de disco de ouro começou quando eu tava meio saindo... senão eu teria muitos... de Roberto Ribeiro, Clara Nunes, Simone, Neguinho da Beija Flor... além dos Abelhudos, grupo dos meus filhos, né?