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Entrevista

Odair José volta ao disco
Nascido no interior de Goiás, desde cedo Odair José interessou-se por música e na adolescência formou uma dupla caipira com um amigo. Mudou-se para o Rio de Janeiro aos 18 anos, trabalhando como cantor de boates suburbanas e circos, além de guitarrista em inferninhos na Lapa. No início da década de 70 começou a compor músicas baseadas no que observava na realidade dos inferninhos, bordéis e boates, um de seus primeiros compactos, "Eu Vou Tirar Você Deste Lugar", falava de um homem apaixonado por uma prostituta. Tornou-se um de seus grandes sucessos e chegou a ser cantada em dueto com Caetano Veloso no espetáculo Phono 73, organizado com o contratados da então gravadora Phonogram (atual Universal Music).

Odair José transformou-se no maior ídolo da chamada música brega, vendendo milhões de discos e emplacando hits como "Pare de Tomar a Pílula", na época proibida pela censura. Em 1977 surpreendeu ao criar uma "ópera-rock", "O Filho de José e Maria". E agora, em entrevista exclusiva, Odair fala do início de sua carreira, do sucesso e de outras passagens.


Por Elias Nogueira

O novo CD lançado pela Deckdisc foi um estimulante para reavaliação de sua obra por conta do tributo lançado pela Allegro, de Goiânia?
Eu acho que uma coisa sempre tem ligação com a outra. De uma certa forma são produções independentes uma da outra e, de certa forma, diferentes. O tributo veio de uma forma que me lisonjeia muito. Nunca pensei em ter esse tipo de homenagem. O resultado me agradou muito. A liberdade que eles tiveram em trabalhar é uma coisa que me deixou muito gratificado pelo projeto. Eles fizeram pesquisa do meu trabalho com total liberdade, e não foi aquele negócio de só gravar músicas que fizeram sucesso. Sei que foram pautados no início 40 artistas para participarem e o disco saiu com 18. Desses 18, apenas umas quatro ou cinco faixas são músicas de sucesso. As outras são coisas de meu repertório que nem em shows eram tocadas, eu só havia gravado. Fiquei muito feliz com o Pato Fu tocando "Uma lágrima", minha primeira gravação, e com o Mombojó tocando "Ela voltou diferente", que é uma música que sempre gostei muito e que nunca teve a necessidade de tocar em rádio. O tributo me deixou, além da competência do trabalho dos músicos, muito feliz e já foi até longe demais. Mas espero, por eles, que alcance uma camada ainda mais alta. A respeito do disco de inéditas da Deck, o 31O da minha carreira, é uma produção do Jairo Pires - que fez parte dos meus melhores momentos em disco.

Mudou muita coisa nesse hiato entre você e o Jairo em nível de trabalho?
Fui trabalhar com Jairo na Polydor depois que saí da CBS. Fizemos discos vitoriosos, talvez os discos que mais venderam em toda minha história. O Jairo teve uma importância muito grande em minha carreira, não somente por ser um cara de estúdio. Ele era o homem que dava apoio para que pudesse fazer aquilo tudo dentro do estúdio. Nesse intervalo de anos, eu sempre mantive contato como ele, sempre conversando, mas sem falar em trabalhar juntos. O que mudou? Apenas ficamos mais velhos e mais chatos... Foi muito gratificante. Na verdade o último disco que fiz, foi o "ao vivo" pela Universal, gravado naquele seu espaço para shows... por volta de 2002. O resto foi só releitura e coletâneas, que são diversas. O Jairo me procurou há mais de um ano, que é o tempo que tem esse projeto. Ele me procurou para fazer um disco de inéditas, dizendo que tinha uma seleção de músicas novas e que eram a minha cara. E que também era o que as pessoas esperavam de Odair José em nível de mercado. Eu demorei até sentar e ouvir. De um modo geral, achei que ele tinha razão com respeito à idéia do projeto. Pediu para que eu escolhesse as músicas e somasse as minhas composições. Na verdade eu sou mais um compositor que canta. Gravei dez músicas do projeto e só inclui duas minhas. Então eu acho que o repertório do Jairo já veio pronto, adequado àquela intenção do resultado final.

Seu primeiro disco foi lançado em 1970? Pós-Jovem Guarda?
Sim. Lancei meu primeiro disco no meio de 1970, com a música "Minhas coisas", com produção do Rossini Pinto. Tive a felicidade de participar da coletânea 'As 14 mais', LP que era campeão de vendas, ao lado do Roberto Carlos, que também puxava com suas músicas a coletânea. Na verdade, ele mesmo era o primeiro e segundo lugar em vendagens. Só que 'As 14 mais' tinham duas faixas dele e outros cantores. Eu, Jerry Adriani, Renato e seus Blue Caps, Wanderléa... e que eram pessoas muito competentes em nível de vendas. Entrei com minha primeira gravação nesse LP e com uma faixa apenas. Já era de bom tamanho. Então já sai num disco que vendia bem. Essa música depois saiu em compacto e posteriormente no meu primeiro LP, que lancei pela CBS. Foi muita felicidade minha sair em 'As 14 mais'.

Como foram os anos 60 para você em Goiânia?
Eu me relaciono com música desde meus sete anos de idade. Morava em Morrinhos, Goiás. Pedi um violão ao meu pai como presente de Natal e ele me deu um cavaquinho. Ela achou que o instrumento era compatível com meu tamanho (risos). Mal sabia ele que cavaquinho era uma coisa e violão outra. Algum tempo depois, convenci minha mãe a convencer meu pai que aquilo era um cavaquinho e não um violão. Esse cavaquinho até hoje é guardado pela minha mãe, nem pra mim ela dá! Em Goiânia, com doze pra treze anos, além de estudar, comecei a ouvir Beatles e várias outras bandas. Em princípio tinha uma banda na escola, em que basicamente tocávamos Beatles e Rolling Stones... ou pelo menos tentávamos tocar.

Então, primeiro veio Beatles e depois a Jovem Guarda?
Beatles, sim! A Jovem Guarda eu sempre vi como um programa de TV do Roberto Carlos e não como um movimento.



Gostaria que falasse da influência que você teve dos Beatles e Rolling Stones.
Eu até hoje sou fã do trabalho dos Beatles. Dos Rolling Stones… Na verdade eles são únicos e gosto deles por um motivo ou outro. Mas sempre gostei mais dos Beatles. Achei sempre o Paul McCartney um grande músico, compositor de melodias incríveis. O John Lennon um cara superinteligente, gostava de tudo neles. O trabalho dos Beatles era único. Eles fizeram ótimas canções e foram sucesso em todos os níveis. No meu trabalho, se as pessoas analisarem, não com a mesma competência, não verão nada dos Rolling Stones. Mas de Paul McCartney, a linha melódica sempre lembra. Não vou dizer que tenho a mesma competência do Paul McCartney, mas tenho influência. E quando não conseguíamos ter a influência dos Beatles, tínhamos do Renato Barros, que trazia tudo dos Beatles pra nossa língua - em versões com tamanha competência. Essas influências eram muito fortes não somente pra mim, mas para quase todos daquela época.

Uma vez você declarou em entrevista que foi Roberto Carlos quem te aconselhou a vir para o Rio de Janeiro tentar a carreira em 1968.
Foi isso mesmo, foi quando passei a tocar profissionalmente num conjunto em Goiânia. Cheguei a tocar no grupo 'Cantar e Tocar', do maestro Marquinhos. Eu tocava mais que cantava. O conjunto dele era o de maior expressão em Goiás, faziam as melhores festas. Um dia fomos tocar no Tênis Clube em Goiânia, onde o Roberto Carlos fazia o show no meio da festa. Nós fazíamos o baile e o Roberto era a atração principal. Na época era o RC 3 - ele cantava e fazia guitarra, acompanhado por Wanderley (teclado), Bruno (baixo) e Dedé (bateria). Como o empresário na época era o Artur Resende, que hoje é um jornalista que mexe mais com a publicidade e é colunista social de Goiânia, através dele eu consegui falar com o Roberto. Eu queria mostrar umas músicas pra ele. O Artur falou que pra falar com ele durante o show era impossível, mas que eu o esperasse pela manhã no hotel, pois ele me apresentaria. Fui até o hotel com as músicas e o violão, na esperança do encontro. Mas não foi nada disso, não é bem assim. Cheguei, o Artur chegou e subiu e, quando eu vi o Roberto, ele já estava indo embora. Mas o Artur me fez a fineza de me colocar de frente com ele e eu falei que queria mostrar uns trabalhos, coisa e tal. Ele me respondeu: "Aqui é impossível, me procura no Rio! O Artur tem meus contatos!". E foi embora, mas fiquei com aquilo na cabeça. Um tempo depois fui pro Rio... para procurá-lo sim, mas não somente pra isso. De qualquer forma, foi ele quem me colocou essa semente de ir pro Rio de Janeiro.

Fale um pouco do produtor, cantor e compositor Rossini Pinto, uma figura emblemática da época. Foi ele quem te levou para a CBS.
Quando fui para o Rio de Janeiro, fui com algumas referências anotadas. O RC era uma com quem só consegui falar depois. O endereço era aquele, o contato tudo certinho, mas o Roberto tinha uma vida muito corrida. Tinha outra referência que era o Rossini Pinto, que na ocasião era uma pessoa muito forte no meio. Era produtor, cantor, jornalista, crítico de disco, tinha programa de rádio e também era letrista. Ele tinha músicas nos discos de Roberto Carlos, Jerry Adriani e tantos outros - em sua maioria artistas do segmento romântico daquela época, ou até mesmo da Jovem Guarda. Eu não gosto de chamar de movimento, mas eu entendo quando vocês colocam como movimento. Todos esses que participavam desse movimento, tinham em seus discos músicas do Rossini Pinto. Cheguei a procurar várias pessoas, mas foi com Rossini que consegui o meu primeiro contrato com a CBS. Ele era muito competente, mas ao mesmo tempo era muito difícil de lidar. Era muito crítico e às vezes até mal educado. Carinhosamente, mas mal educado. Era muito ocupado e de vez em quando dava uns foras nas pessoas. As pessoas gostavam dele dessa forma porque era o jeito dele. Então peguei no pé dele durante dois anos, que foi justamente o tempo que levei pra gravar o disco. Acho que gravei muito rápido, tem pessoas que demoram dez anos até gravar um disco.

Sua passagem pelas gravadoras CBS e Polydor lhe renderam as maiores vendagens.
Eu tive um aprendizado muito grande! Quando gravei meu primeiro disco na CBS, eu era muito verde. Era um rapaz cheio de sonhos, mas com muito pra aprender. Minha convivência com seu Evandro Ribeiro, que era o presidente, com Othon Russo - que era nosso gerente de divulgação, a convivência com os próprios músicos, principalmente com Renato, Lafayette, Paulo César Barros, Mauro Motta e outros tantos. E também com os produtores, que eram Rossini Pinto e Raul Seixas. A convivência com eles foi muito importante pra mim. A minha passagem pela CBS teve meu ponto alto quando lancei "Eu vou tirar você desse lugar", que é um dos meus maiores sucessos em vendagem e execução em rádio. Seu Evandro Ribeiro não havia gostado do resultado da gravação da música "Vou morar com ela", que fez sucesso porque estava nas 'As 14 mais', achando que eu modernizei demais as bases na forma de gravação. Ele tinha aquele segmento do Roberto Carlos, que vocês chamam de Jovem Guarda, e que era vitorioso. Aquilo ali era o som deles. Não gravei com os músicos de sempre - Renato, Paulo Cezar, Lafayette...; gravei com músicos de jazz e ele não gostou. Como castigo, ele me tirou do terceiro disco 'As 14 mais' e meu contrato não foi renovado. De qualquer forma ele me avisou do encerramento do contrato e disse que eu iria gravar um compacto simples. Foi quando cheguei com "Eu vou tirar você desse lugar". O Rossini odiou, dizendo que era música de puta e coisa e tal. Até então, o amor era cantado como o Roberto fazia. Era um beijo no cinema, eu te darei o céu, o amor do portão. Quando muito, era um amasso dentro do carro. E eu falando de um amor por uma prostituta. Acabei gravando e vendi 1 milhão e meio de cópias naquela época. E tem outra coisa, essa música é o lado B do compacto. O lado A era uma música muito legal do Rossini que não lembro o nome agora, mas que era uma levada do tipo "amor no portão" (Vou lhe confessar o meu amor, não sei porque você mudou assim...). Era mais ou menos assim.

O Rossini era um ótimo compositor, sinto até saudades de não ter um compositor desse tipo hoje em dia, mesmo porque hoje não se faz mais música assim. Ele não gostou, disse que estava me dando uma oportunidade, quebrando meu galho e que o seu Evandro estava puto comigo e que eu ainda apareço com essa música de puta, que nem o Nelson Gonçalves estava gravando mais esse tipo de canção, dizendo que eu era um merda, mandou eu me espelhar no que Roberto fazia. Eu argumentei dizendo que o Roberto já fazia esse tipo de música e muito bem, e que eu seria mais um atrás dele. Resultado: ele deixou eu gravar e aconteceu o que aconteceu. O disco não foi trabalhado porque eu não estava no esquema da gravadora. A música estourou sozinha! Nunca fui em rádio divulgar essa música, tanto é que eu até hoje acredito na força da música. Existem músicas que caminham sozinhas, demoram um pouco, mas vão. Foi quando fui pra Polydor. Quando o disco estourou, a CBS queria imediatamente renovar meu contrato. Concordei, mas alegando que faria um disco não nos moldes que eles queriam. Seu Evandro ainda me disse: "Está pensando que você é o que? Vou prender seu contrato na gaveta e vou fazer com você o que fiz com Sérgio Murilo! Você nunca mais terá sucesso!". Eu falei pra ele que nem contrato eu tinha, foi quando ele percebeu que o artista estava sem contrato. Foi a partir daí que fui pra Polydor. Na Polydor, eu tive realmente trabalho. Acredito muito no trabalho. Acho que o milagre e a sorte são resultados de trabalho. O sucesso vem do trabalho e da competência. Estava numa fase muito criativa e fazendo tudo que as pessoas queriam ouvir. Estava trazendo o novo. Com todo o carinho, obriguei até o Roberto Carlos a ser mais sacana em suas músicas. Ele começou a despir as mulheres em suas letras. Eu e Jairo fizemos um trabalho muito bom nessa gravadora de 1972 até 1977. Depois saí e fui fazer outras coisas.

Mas você teve discos gravados em espanhol!
Gravei uns três, Elias! Fui pros Estados Unidos, pro México... Esses países que todos iam para trabalhar. As pessoas achavam que eu tinha um grande futuro pelas minhas bases. Existe uma banda chamada Azymuth, a qual na verdade os integrantes se conheceram tocando comigo. O Zé Roberto tocava com Elis Regina, Alexandre tocava com o povo de Niterói e o Mamão tocava numa banda de rock antes de tocar com o Tutti-Frutti da Rita Lee. Eu que reuni essa turma dentro do estúdio. Fazíamos um trabalho de base muito bom e o pessoal gostava. Tocava sempre com pessoas do naipe de primeira. Gravava os violões com Luis Cláudio, irmão do Carlos José, que tocava com Chico Buarque, o Hyldon (Casinha de sapê)... As minhas bases eram esse povo. Músicos muito competentes. Assim achavam que iriam fazer sucesso lá fora se eu investisse, só que eu não investi. O próprio Julio Iglesias, que antes do Brasil conhecer, rodou muito comigo pelo Rio de Janeiro e ninguém sabia quem era ele, dizia que seria o maior cantor da língua espanhola e realmente virou. Achava engraçado porque ele não parava de falar isso! As pessoas achavam que eu poderia ser o cantor de maior sucesso. Como já fiz... pois cheguei a ser o Rei da Colômbia! Fazia mais sucesso do que os próprios colombianos, isso na primeira metade dos anos 70... acho eu!

Depois, eu mesmo abandonei isso, não tive mais saco! Foi um erro? Foi, mas eu não dei continuidade. Depois fui pra RCA fazer aquele disco que a gente chama de "ópera rock" - 'O filho de José e Maria'. É um trabalho teatral, fiquei dois anos fazendo esse projeto e fui muito criticado por isso. Outro dia ouvi uma palavra linda, que foi a primeira em muitos anos: 'Você foi incompreendido'. Puta que pariu, até que enfim alguém falou alguma coisa legal sobre aquele projeto. Até então só havia levado porrada! Depois é que fui pra Continental. Gravei um disco dentro do meu segmento popular, a música "Até parece sonho" chegou a ser tema da novela 'Cabocla' na primeira edição. Depois fiquei gravando discos. Fui pra Odeon trabalhar com Miguel Plopschi, chegando a fazer seis discos. Eu pessoalmente não me considero artista, nem um mito. Considero-me um operário da música. Acho que, dentro desse meu trabalho de operário, consegui meus objetivos. Não acho que tinha capacidade e nem obrigação de todo ano lançar disco e estourar um sucesso! Depois de um certo tempo o artista não tem essa obrigação, até porque ninguém agüenta ver todo dia a mesma pessoa na TV. E não vejo muitos que perpetuaram nesse 30 anos na mídia com sucesso, são poucos! Pra não dizer que é somente um, Roberto Carlos.

Mas seus discos já deram prejuízos as gravadoras?
Nunca! Tanto é que sempre tive as portas de todas gravadoras abertas. Nunca tive esse tipo de problema. Eu preciso trabalhar, ganhei muito dinheiro, mas se não trabalhar acaba! E eu sempre fiz música desde os sete anos de idade, posso ficar muito tempo sem gravar, mas ficar sem fazer show me faz falta. Esse é o meu 31O álbum de carreira, mas digo sinceramente que tem uns sete discos que nem mereciam ser lançados. Não que estejam mal gravados, mas lançar disco tem que ter inspiração do momento. Sempre trabalhei e meus discos sempre venderam.

A música "Eu vou tirar você desse lugar" você não pode deixar de cantar em shows.
Não posso deixar de cantar mesmo! "Eu vou tirar você desse lugar", "Pare de tomar a pílula", "Cadê você", "A noite mais linda do mundo", "Eu você e a praça", "Deixe essa vergonha de lado", "As minhas coisas" e outras, que não agüento mais cantar, mas tenho que cantar. O público exige! Acho essas músicas eternas!

Na sua opinião, qual é a diferença de um cantor popular reconhecido pelo público, mas que não tem o respaldo da crítica, para o artista elogiado pela crítica?
A crítica, quando faz, faz uma análise do conhecimento de um todo. Já o povo vê a coisa com emoção... e não enxerga o que o crítico vê! Às vezes é um grande sucesso popular, mas a crítica não vê daquela forma. Reconhece o sucesso popular, mas não reconhece como de boa qualidade. Compete ao artista preencher esse vazio que a crítica cobra. Existem artistas que, embalados pelo sucesso, não admitem crítica. Eu não sou assim. O povo vê com emoção e o crítico com razão.

Você foi respaldado por Caetano Veloso e pelos Titãs.
No meu ponto de vista foi tudo muito legal ser cantado por Caetano e ouvir ele dizer que meu trabalho é bom! É muito gratificante! Ter conhecido ele e tudo mais foi maravilhoso! Quanto aos Titãs, foi o máximo! Marcelo Frommer antes de falecer tinha um projeto de lançar um disco meu como produtor. No tributo, o Paulo Miklos cantando "Eu vou tirar você desse lugar" foi demais! Gravei uma música inédita deles, "Baby", de autoria do Paulo Miklos, Arnaldo Antunes e Marcelo Frommer, no disco que fiz para Universal junto com Max Pierre. Às vezes que estive com os Titãs, foi sempre com respeito e admiração mútua.

Você já foi chamado de cantor das empregadas. A Rita Lee em sua música diz que você é o "Terror das empregadas". Até onde vai o elo de suas canções com essa classe?
Eu me considero um cantor popular que atingiu qualquer tipo de pessoa. Com respeito às empregadas domésticas, eu fiz uma canção em parceria com um amigo que fez a letra, e que diz "deixa essa vergonha de lado", onde falávamos do social chamando atenção pra essa profissão que até hoje ainda não é muito bem explicada. Na verdade eu nem sabia que as empregadas gostavam dessa canção, podia ser que elas não gostassem. Por ter feito essa canção, fiquei ligado a esse estigma. Teve até a brincadeira da Rita Lee e do Paulo Coelho, que não me incomoda em nada, só me gratifica. Se eu sou o cantor das empregas? Sou sim, com a maior dignidade e o maior prazer. E sou das putas, ou de qualquer pessoa que curta meu som. Sem essa de rótulos! Pra mim a importância do rótulo é mais importante pra quem rotula do que pra quem é rotulado. Realmente não me incomoda.