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Entrevista

Roberto Carlos


No último dia 11 de dezembro, a gravadora SONY BMG recebeu a imprensa num salão do hotel Caesar Park, em Ipanema, zona sul do Rio, para a tracional coletiva com Roberto Carlos. Pronto para lançar seu DVD e CD "Duetos", como de se esperar Roberto teve que enfrentar perguntas acerca de uma biografia não-autorizada, lançada poucos dias antes. A seguir, a íntegra desta coletiva, gravada e transcrita especialmente para o Portal Jovem Guarda por Marcelo Fróes.


O DVD contém um dueto com Tom Jobim, que entra cantando uns versos que não estão na gravação mais conhecida de "Lígia". Você até se surpreende. Aquilo foi espontâneo ou já tinha sido feito no ensaio?
Não, foi espontâneo, foi espontâneo. Aquilo realmente foi totalmente espontâneo e pra mim foi uma surpresa. Na hora, eu fiquei até preocupado... porque não conhecia... e preferi cantar logicamente a letra que eu sabia. Que bom que você notou isso, você é bem observador.

Ano passado cogitou-se a possibilidade do CD deste ano ser de músicas inéditas. De certa forma, você já estava até trabalhando no material. Queria saber se você continua trabalhando no material e por que decidiu adiá-lo em função deste projeto de duetos. Você tem a possibilidade de lançar isso ano que vem?
Tenho, e até era minha idéia realmente lançar um CD de inéditas este ano. Mas aí todo mundo já tinha pensado neste CD e DVD de duetos, e a coisa me ocupou todo o início do ano. Eu demorei um pouco a começar a compor, então achei que era melhor deixar o CD e DVD de músicas inéditas pro ano que vem e aproveitar esse material que eu tenho, todo feito nos meus especiais na Rede Globo de Televisão.

Gostaria de saber como foi feita a escolha do repertório para este DVD e se te doeu ter deixado alguma coisa de fora.
Muita coisa, né? Na verdade, quando eu pensei em fazer este CD e DVD, eu não sabia quantos duetos eu tinha. Fiquei muito surpreso de ver que eu tenho 93 duetos, ao longo de todos os meus especiais de televisão. Aí começou o grande trabalho, de selecionar tudo isso pra fazer o primeiro. Selecionamos 42 ou 43, e aí teve o trabalho todo de selecionar as 16 (faixas). Com certeza foi difícil, porque tem coisas muito boas - além desses 16 duetos que estão neste DVD. Então foi muito difícil deixar de usar os outros. Acho que a gente tem material pra lançar os volumes 2 e 3, se quiser... Acho não, tenho certeza!

Destes duetos que ficaram de fora, algum ficou de fora por não ter havido êxito em negociação com outras gravadoras, editoras ou famílias de artistas?
Não, não, não... Não, porque na verdade meu empresário Dody Sirena e a gravadora SONY BMG só começaram as negociações depois que a gente selecionou os 16 duetos. Não tivemos problema algum, os artistas todos foram e são maravilhosos, e aceitaram prontamente e sem nenhuma dificuldade. As negociações foram todas muito claras e muito tranqüilas.

A SONY BMG anunciou que você vai voltar a gravar em espanhol. Há quanto tempo você não grava e pra quando vai ser este novo projeto?
Eu nem sei quanto tempo... acho que tem uns 10 anos que eu não gravo em espanhol. Vamos fazer um CD ao vivo, um DVD também, agora em janeiro. Vai ser gravado na Espanha. Esse projeto já vem de há muito tempo, há mais de dois anos que a gente vem pensando nele. Temos uma expectativa muito boa, é um público muito bom e vamos curtir. Faz bastante tempo que eu também não vou aos países de língua espanhola ou hispânica, mas eu tô animado...

Saiu um livro recentemente contando a história da sua vida, uma biografia não-autorizada. Eu queria saber se você leu aquele livro e qual é a sua opinião sobre ele.
Eu não li o livro todo, mas as coisas que eu tomei conhecimento e que leram pra mim, e tudo aquilo que eu tenho conhecimento do livro, sinceramente me desagradam muito. Tem muita coisa, pra falar a verdade... Pra começar, é uma biografia não-autorizada e cheia de coisas que não são verdadeiras e coisas que ofendem a mim e a pessoas muito queridas, pessoas maravilhosas e que são expostas e colocadas aí numa exposição absolutamente sensacionalista. Eu acho um absurdo isso, eu acho que essas pessoas merecem o devido respeito e eu também. Acho não, com certeza. E o livro tem essas coisas todas que me desagradam. E, além de tudo, pra mim é muito estranho que alguém lance mão desse patrimônio que é a minha história. A minha história é um patrimônio meu! Eu acho que eu tenho que escrever esse livro e contar, quando eu quiser, essa história... porque ninguém vai contar a minha história melhor que eu e de forma verdadeira. Então eu acho que é um absurdo quando alguém lança mão do meu patrimônio em seu benefício, principalmente num produto para tirar proveito comercial... porque, sem dúvida alguma, o livro é um produto comercial. Então eu não concordo com isso, estou realmente muito aborrecido com isso e muito triste com isso. Meus advogados estão estudando o caso e com certeza a gente vai cuidar disso dentro da forma da lei.

Em 1997, você lançou uma coletânea em espanhol - "Canciones Que Amo". Você não pensa em fazer um projeto com clássicos da música brasileira?
Já pensei muitas vezes em fazer... principalmente um trabalho com clássicos românticos, né? Já pensei, já quase fiz até, mas pode ser que de repente a gente faça.

Na última apresentação do show no navio, foi gravado um DVD ao vivo. Essa gravação já tem previsão de lançamento?
A gente pensou muito nesse DVD, mas eu acho que o material que a gente tem precisa de mais coisa, sabe? Precisa de algumas coisas mais, para que realmente se faça um bom produto. A gente analisou e chegou à conclusão de que deve deixar pra mais adiante, de repente até com alguma coisa gravada nesse próximo cruzeiro. Quem sabe, com esses dois materiais, a gente possa fazer um bom DVD... um DVD do jeito que a gente gosta de fazer, da melhor forma.



Fomos informados de que a SONY BMG é que informaria o preço do CD e do DVD. Você levantou recentemente uma questão sobre pirataria, perguntando por que é que as autoridades não estariam se empenhando pra que o nível de pirataria fosse diminuído. Pelo que a gente observa em loja, o fã gosta de prestigiar o artista. Mas o preço do CD em loja, em comparação ao salário mínimo, é muito alto. Então eu gostaria de saber de você se você concorda que a sua gravadora deveria vender os discos a preço mais popular, mais de acordo com o bolso do brasileiro.

Isso não é tão simples assim. Não é tão simples não, porque uma produção de CD ou DVD é uma coisa que às vezes fica realmente muito cara. E todo trabalho que uma gravadora tem pra lançar esse CD, todo trabalho de marketing e tudo mais, também tem um custo muito alto... e tudo isso é colocado no preço deste produto. O que eu acho que falta no combate à pirataria é realmente acabar com a impunidade. Porque, se aqui fosse como na Europa, onde realmente não existe essa liberdade do pirata estar na rua, vendendo numa banca comum o produto ilegal, isso não aconteceria mais. Se a lei fosse cumprida, se o pirata realmente fosse punido por essa atitude, isso realmente consertaria o problema da pirataria. Isso é que realmente resolveria esta questão, mas isso realmente não tem sido feito. A pirataria acontece em todos os lugares, as pessoas passam na rua e vêm gente vendendo produtos piratas - e não só CDs e DVDs, mas produtos piratas em geral - em todos os lugares. Nas feiras, nas esquinas, enfim, e não é tomada nenhuma providência. As autoridades realmente não estão tomando nenhuma providência de punir essa atitude fora da lei.

(neste momento o presidente da SONY BMG fez uma explanação sobre a situação dos preços, do mercado, da pirataria etc)

A maioria dessas gravações do "Duetos" é dos anos 90. Isso teve algum motivo especial ou isso aconteceu por acaso?
Eu nem percebi isso, mas tem alguns dos anos 80 também. É, nós não observamos essa questão não. Fizemos realmente a partir daquilo que achamos que seria a seleção ideal para este DVD. Obrigado pela observação.



Há uma década que você não lança um disco de canções inéditas. Secou a fonte do compositor? Tá difícil compor?
Não... Você está um pouquinho enganado nessa questão. Em 2000 eu lancei um disco de inéditas, apenas com três músicas não-inéditas, vamos dizer assim. E há dois anos o disco "Pra Sempre" também foi um disco de músicas inéditas. O disco é um disco de músicas inéditas, feitas por mim, por Erasmo e por outros compositores. No disco "Pra Sempre" eu nem lembro que músicas não são inéditas, mas pelo menos sete ou oito são inéditas. E, depois agora, mais recentemente, o disco que tem "Índia" e "A Volta" sim, não é um disco de inéditas. Nesses últimos 10 anos, como você fala, eu tenho pelo menos dois discos de músicas inéditas. E também isso não é o ideal não, viu? Mas não é uma questão de não estar compondo. Eu acho que chega uma fase da vida da gente que a gente compõe com muito mais cuidado e buscando algo maior do que a gente havia buscado antes. Então isso torna realmente o trabalho de composição um pouco mais lento. Eu acho que isso não acontece só comigo não, acontece com todos os compositores - que, depois de uma certa época e depois de um certo tempo de sua carreira, começam a compor menos, mas, de um modo geral, eu acho que com cuidados mais especiais até. Isso é que causa talvez essa demora.

Você tinha 93 duetos e serviu-se de algum critério de escolha. Qual foi?
O critério foi aquilo que mais emocionava e aquilo que era compatível, um dueto com o outro, pra fazer uma coisa única. Num CD e num DVD, a gente busca a harmonia. A gente chegou a fazer vários formatos, foi um trabalho demorado, porque eu sempre fui muito criterioso... mas sempre partindo da emoção que causa tudo aquilo que está ali, naquela seqüência...

Esse ano você inovou, ao levar o MC Leozinho pra fazer um dueto com você no show. Gostaria que você comentasse, pois foi o momento mais dançante do show. Ele poderá estar em seu próximo disco de duetos?
(rindo) Por que não, né? Por que não? Leozinho realmente é ótimo, tem um estilo muito especial dentro do funk, uma forma muito especial de compor. É mais ou menos aquilo que eu disse no início da apresentação dele, é uma poesia um pouco diferente do que se vê de um modo geral no funk. Não estou dizendo com isso que as outras letras não sejam boas, não estou dizendo isso. O funk tem sua forma especial de ser e com certeza a gente se diverte com o funk. Eu gosto de muita coisa do funk e aí a ida do Leozinho eu pensei que seria uma coisa muito boa pro programa... porque principalmente ele é um sucesso, realmente. Sem dúvida alguma, é um grande sucesso o "Ela só quer beijar". Eu gostei muito da reação do público em relação ao MC Leozinho, que é o que eu esperava realmente. Ele é um menino muito legal, gente muito fina e fiquei muito contente de ter pedido pra produção chamá-lo pra fazer o programa comigo. Logicamente que tudo foi pensado pela equipe, depois que eu sugeri o nome do Leozinho.

E pro baile funk, você vai ou não vai? (risos)
Claro que eu tenho curiosidade de ver como é que é um baile funk. Eu tenho uma curiosidade muito grande e não é de agora. Eu acho que tudo isso aconteceu porque eu falei pro Leozinho: "Puxa, eu tenho muita vontade de ver como é que é um baile..." "Ô Roberto, vamo lá bicho, eu armo isso pra você!" (risos) "Mas eu quero um baile funk de verdade, não quero um baile funk de loja não hein!" Ele falou: "Não, não, não, baile funk pra valer!" "Então ta bom!" Quem sabe qualquer hora o Leozinho me leva pra passear nessa praia... Por que não? Por que não conhecer, né? Eu acho tudo muito legal, onde há diversão eu acho que vale a pena.

Eu gostaria de voltar a um assunto chato, que é a biografia... Que coisa te incomodou tanto? É uma biografia que já está nas lojas, tá todo mundo lendo... Então que grande mentira é essa, que está te incomodando tanto?
Em primeiro lugar, são muitas... e em segundo lugar eu gostaria, com todo respeito a você e a todos vocês, de não falar mais sobre este assunto. Até nem era pra eu ter respondido à primeira pergunta, porque eu não quero tocar nesse assunto. Realmente, como eu disse, isso me aborreceu muito e me aborrece muito. Eu quero realmente não falar nesse assunto aqui...

Você diria pras pessoas não comprarem?
Veja bem, eu não tô aqui pra dizer o que meu fã deve fazer ou não. Só quero dizer que realmente é uma coisa que eu não estou de acordo. Eu me sinto agredido na minha privacidade, principalmente por coisas que não são verdadeiras. Isso me irrita, me incomoda e me entristece. Com certeza que isso já tá com nossos advogados, pra fazer aquilo que a lei faculta.

Ano passado, nesse nosso encontro, você falava da sua evolução - tanto como artista, como pessoa - nessa sua terapia ou nesse seu tratamento. Esse ano você colocou um texto no seu show, antes de cantar "Negro Gato", em que você diz que "a terapia deve estar funcionando". Como é que você está se sentindo?
Em relação ao TOC? Na verdade eu melhorei bastante, mas isso não quer dizer que eu tenha tido alta não! (risos) Eu já canto "Negro Gato", não tenho problemas. Eu até achei que esse ano eu ia cantar "o bem e o mal existem", mas acabei não dizendo na música... mas já digo numa entrevista! (risos) Sem dúvida alguma, isso já é uma evolução, isso já é uma melhora, mas não significa que eu esteja "de alta"!

Você é o maior nome na nossa música, porém aqui no Rio - dentre as rádios consideradas mais populares - apenas uma toca as suas músicas. Você acha que, por mais que façam sucesso, os artistas populares e românticos ainda enfrentam preconceito?
Eu não sei se é um preconceito. Logicamente que eu gostaria muito que não fosse assim, mas os programadores têm suas razões. É muito difícil opinar sobre isso, sabe. É difícil mesmo, porque cada um tem suas razões pra fazer o seu trabalho. A única coisa que eu posso dizer é que isso felizmente não tem afetado o resultado comercial do meu trabalho, dos meus produtos e dos meus shows. Enfim, tudo na minha carreira tá muito bem... mas logicamente que eu gostaria muito de ter uma execução maior em rádio do que a que eu tenho. Mas, volto a dizer, felizmente isso não afeta a minha carreira - até mesmo a vendagem dos meus discos, CDs e DVDs, que têm tido um resultado comercial e financeiro muito bom.

Ouvindo o CD, com seus duetos e parceiros, veio a curiosidade sobre o que você escuta em casa. O que você gosta de escutar?
Eu gosto de tudo, eu gosto de tudo que me causa alegria e emoção. Eu gosto de ouvir o sucesso, porque eu gosto de saber o que é que faz sucesso. A gente aprende muito ouvindo o que faz sucesso. Você começa a observar o que funciona hoje em dia e, com isso, quando você vai compor, você tem aquilo na cabeça e acaba sempre usando no seu trabalho aquilo que você aprendeu ouvindo rádio ou alguma coisa em casa. Eu ouço tudo, sinceramente ouço tudo. Ouço funk, ouço pagode, sei lá, e principalmente música romântica. Atualmente não tenho ouvido, mas antigamente até ouvia música clássica também.

O que você sente falta de ouvir?
Olha, eu acho que falta um pouco de música romântica no rádio. Eu acho que as pessoas hoje gostam muito de ouvir coisas um pouco mais alegres, mais festivas, mesmo que seja uma música romântica ou uma letra romântica. Mesmo as músicas de ritmo festivo ou dançante, quando elas têm uma letra romântica as letras são mais suaves do que, por exemplo, quando eu fazia "As Flores do Jardim da Nossa Casa". Esse tipo de música, triste e dramática, eu sinto que não é muito do momento de hoje. Mas uma música romântica e suave como "Pra Sempre", que é uma declaração de amor, eu acho que tem lugar sim.

Há dez anos, numa coletiva sua no Maksoud Plaza, o presidente da Sony informou que o seu disco estava indo pras lojas com 1,5 milhão de cópias. Você chegava a vender 2 milhões de discos. O último não vendeu 300 mil cópias. É verdade que há o problema da pirataria, mas em algum momento te aflige a idéia de você estar perdendo o "toque de Midas" ou o contato com seu público?
Não, porque isso não é uma coisa que acontece só comigo. Isso acontece com outros artistas que chegavam a esses números. É uma questão de mercado, realmente, existem algumas influências nesse mercado. Eu acho que a principal influência é a pirataria, e depois vem a Internet - que ainda tem coisas que precisam ser regulamentadas, em benefício da música e do artista que faz música, principalmente. Tudo isso são fatores que têm diminuído a venda do CD de forma significativa. É um momento de muita preocupação e logicamente que isso me preocupa, mas não me preocupa de forma pessoal... porque eu tô dentro de uma média muito boa nesse mercado.

Nesse cotidiano estressante, qual é a receita do Rei para se estar de bem com a vida e para uma vida saudável?
(rindo) Quem sou eu pra dar receita? Eu sei cantar, bicho! Olha, eu acho que a gente tem que procurar sempre viver da mesma forma - viver de forma saudável - porque isso é sempre bom, o resultado é sempre bom quando você procura viver da melhor forma que você possa. É esse o meu lema... e eu tô aí, procurando fazer as coisas que são possíveis e de que se gosta, cuidando da saúde, se alimentando bem e tudo mais.

Bem, com relação ainda à pirataria, a gente percebe que vários artistas - incluindo você - ao longo de muito tempo, nos últimos anos, vêm fazendo reclamações sobre o problema. Mas a gente não percebe uma mobilização do meio, de forma oficial, para cobrar das autoridades. Será que não seria hora dos artistas - e até mesmo de você, que tem um nome fortíssimo na música - cobrarem isso diretamente das autoridades e não somente reclamar nos meios de comunicação, como é o que vem acontecendo?
Eu acho que você tem razão, porque na verdade cobrar esse tipo de atitude severa em relação à pirataria nunca existiu. Existiram movimentos que propuseram, muita propaganda na televisão do tipo "olha, não compre pirata não!" Eu não acho que isso funcione não. Acho que isso realmente não dá resultado e o que deveria ter é um movimento em relação a cobrar das autoridades o que a lei tem que fazer, pra defender o artista da pirataria... Você tem razão, não tem existido nem de minha parte e nem dos artistas de um modo em geral... mas eu acho que o problema é realmente das autoridades, são elas que têm que resolver este problema.

Você falou que, se alguém tivesse que escrever sua biografia, teria que ser você mesmo. Existe um plano pra isso?
Eu venho pensando em escrever isso há 20 anos! (risos) Eu venho pensando em escrever a minha história há 20 anos... e todo ano eu digo: "Esse ano eu começo!" Mas eu acho que "esse ano eu começo"! (risos) Ano que vem, porque agora já está no fim do ano e com certeza tem muita coisa pra eu fazer. Tenho muito trabalho e não dá pra começar, mas ano que vem vou começar seriamente a escrever a minha biografia... a "minha história", né?

Você é um dos homens mais assediados e mais cantados por mulheres de todas as idades... até hoje. A cantada mais recente, que todo mundo conhece, é a da Hebe - que se declarou apaixonadíssima por você. De onde vem esse charme todo? O que as mulheres vêm em você?
(risos) É muito difícil pra mim de explicar, é uma situação muito delicada... Não sei... Qual foi a sua pergunta, objetivamente falando? (risos)

De onde vem esse charme todo?
Eu? Eu? Eu não tenho charme, eu sou como eu sou! (risos) Não, eu não sei responder sua pergunta não!

E a Hebe?
Ela é minha amiga! (risos) Ela é muito brincalhona, é minha amiga de muitos anos e com certeza isso aí faz parte daquelas brincadeiras todas da Hebe! (rindo)

A partir do fim dos anos 80, houve uma convenção de que sua obra teria ficado um pouco aquém de qualidade.
Como é que é?

A partir do fim dos anos 80, principalmente dos anos 90, se convencionou dizer que as suas composições caíram um pouco de qualidade. Como é que você vê essa análise da sua obra, a partir dessa época?
Eu acho que isso aí é mentira! (risos) Isso é mentira, o meu trabalho e a minha música não caíram de qualidade não! Podem não ter agradado a algumas pessoas, principalmente as pessoas que fizeram esta pesquisa... Eu acho que inclusive, pelos hits que eu tive nos anos 80 e 90 também, canções como "Mulher Pequena", "Mulher de 40" e "Alô", pelas vendagens e pelo trabalho que eu fiz, mostrariam que esta pesquisa é mentirosa.

Tem uma série de movimentos no país afora, manifestações públicas pelo menos, pedindo que na próxima gestão do Presidente Lula seja mantido o Gilberto Gil no Ministério da Cultura. Eu gostaria de saber qual avaliação você faz dele após 4 anos e se sua manutenção também seria um desejo seu.
Gil é um homem muito inteligente, muito sensível e com certeza tudo que ele fizer vai fazer sempre de uma forma muito cuidadosa e sempre com muito empenho. Agora, eu entendo muito pouco de política pra avaliar o trabalho do Gil por todo esse tempo... por esses quatro anos... Eu não sou a pessoa certa para avaliar isso. Agora, admiro muito o Gil, sempre como artista e também como pessoa. Acho que Gil sempre vai fazer as coisas bem feitas e de forma cuidadosa. Se ele deve continuar, isso é uma questão em que deve ser avaliado mais profundamente o trabalho que ele fez por todo esse tempo.



Sem tocar nos aspectos que você não quer mais falar acerca do livro, mas a imprensa reagiu ao livro de forma muito positiva - destacando que pela primeira vez você teve um reconhecimento pelo trabalho histórico, mostrando a altura em que você está na Música Popular Brasileira. Você é mostrado no livro como o maior compositor, além de ser comparado - como cantor - a figuras como Frank Sinatra. Eu acho que, não obstante os aspectos pessoais, no sentido da importância da obra, você sai maior...

E daí?

A repercussão entre intelectuais e críticos é essa. O livro diz que você, ao contrário do que a crítica afirma, teve uma produção de tanta qualidade quanto no início da carreira. Esse aspecto não pode ser importante, no sentido da história da Música Popular Brasileira?
Não tem nada uma coisa a ver com a outra. O autor se apropriou da minha propriedade e do meu patrimônio, pra escrever uma coisa que eu não autorizei. Isso é o primeiro ponto. Você gostaria que alguém escrevesse a sua história, quando você quer escrever a sua própria história? Me responde! Você gostaria?

Depende...
"Depende" não, responde diretamente. Você gostaria que alguém escrevesse a sua história? Mesmo que não fosse uma pessoa, mas várias pessoas contando sua história do jeito que quiserem e do jeito que imaginam, e alguém pusesse tudo isso num livro?

Teve aquele episódio do mordomo, mas esse livro não tem esse caráter...
Não importa, não importa. O livro, pra ser escrito sobre a história de alguém, tem que ter só verdades e não pode ter invasão de privacidade. Eu acho que a privacidade de uma pessoa deve ser respeitada a qualquer custo, sabe? A vida privada de cada um tem que ser respeitada, sabe? Não é porque o cara escreveu um livro, que ele pode me elogiar e ao mesmo tempo dizer coisas que eu acho que não devem ser ditas e coisas que não são verdadeiras. E ofender pessoas, por exemplo. Você acha que, por ele ter dito isso ou aquilo, por ele ter me comparado a Sinatra, ele tem direito de ofender pessoas queridas e maravilhosas, que merecem o respeito, e expor essas pessoas a um ridículo e de forma sensacionalista? Eu não acho que isso justifica o que ele disse de bom. Não acho.

Nosso futuro Secretário de Cultura, Luiz Paulo Conde, falou esses dias sobre a música sertaneja ser música de baixa qualidade. Temos Chitãozinho & Xororó, Sérgio Reis e Almir Sater em seu DVD. Eu gostaria que você falasse sobre esse preconceito e sobre a música sertaneja na sua história.
Com certeza isso é uma opinião preconceituosa, eu acho que todo estilo tem coisas boas e coisas que não são muito boas, né? Mas o que vale é a obra em si, a música em si. Eu acho que o repertório sertanejo tem coisas muito boas, dentro daquele estilo. Porque estilo é uma coisa que você tem que analisar dentro de certos parâmetros. Enfim, eu acho que a música sertaneja tem coisas muito boas e coisas que às vezes não são muito boas também. Como a Bossa Nova, que é considerada a melhor música brasileira, e também tem coisas que não são tão maravilhosas como as coisas maravilhosas que foram feitas. Eu acho que não se pode generalizar a coisa dessa forma, eu tenho muito respeito pela música sertaneja. Tem coisas muito bonitas. A música sertaneja de raiz tem que ser olhada de uma forma muito especial, né? O som é diferente, a forma de dizer é diferente. É preciso que se olhe sem preconceito.

Quando você vai fazer show no Rio?
Eu realmente tenho muita vontade de me apresentar no Rio. A gente tem pensado muito nisso e eu tô sentindo muita falta de fazer a temporada no Rio. Ano que vem a gente vai fazer.

Você sempre traz uma mensagem religiosa em seus discos. Neste CD de duetos não há nenhuma. Mudou sua relação com o catolicismo?
Não, não é bem assim. Nessa questão de duetos talvez tivéssemos dois duetos desse gênero de "mensagem religiosa". Eu considero mensagens não apenas as religiosas que eu fiz, mas "Amazônia" e "Baleias" também. Nesse disco não entrou nenhuma religiosa por nenhuma determinação, até porque entrou "Amazônia" - que é uma mensagem.

Como foi o encontro com Marisa Monte?
Foi maravilhoso o encontro com Marisa, ela é uma grande artista e uma pessoa também muito legal. Simpática, amável, sensível. Foi muito bom nosso encontro, nós tivemos um dia de ensaio no nosso estúdio e também foi muito bom e muito gostoso. Foi muito bom fazer esse dueto com a Marisa e quero também falar do Jorge Ben, que é meu compadre e durante tempo eu não vi. Foi um encontro também maravilhoso, nós falamos muito das coisas daquela época da Jovem Guarda. Foi uma coisa muito boa, esses encontros me fizeram muito bem. Eu acho que esse programa foi de muita alegria... e eu gosto que essas alegrias aconteçam!

Por que "Insensatez" em espanhol?
Porque eu a gravei em espanhol, num disco que a gente lançou aqui em 1997. Foi uma sugestão da produção e eu achei que era uma boa idéia. Enfim... Por que, você não gostou? (risos)

Você anda numa fase muito sorridente. Falam muito que você estaria apaixonado pela Luciana Vendramini. Isso é verdade?
Não, isso é mentira! (risos) Não, não tem isso não! São só boatos, não existe nada de namoro entre a gente. Nada disso, nem com ela e nem com ninguém. Ela de vez em quando vai aos meus shows, a gente se fala no camarim quando ela vai ao camarim para me cumprimentar - como foi desta vez. Mas nada mais que isso, não existe nada além disso entre nós.

Você começa 2007 com algum desejo de realização?
Eu quero fazer um disco inédito...