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Entrevista

Rosemary

"Fada loura" na época da Jovem Guarda, a cantora Rosemary na verdade soube buscar seu caminho desde os anos 60. Ainda que citada por Erasmo Carlos na letra de "Festa de Arromba" e de ter sido considerada uma das divas da chamada "música jovem" nos anos 60, Rosemary trilhou séria carreira na música brasileira e, já a partir dos anos 70, estrelou diversos musicais e gravou discos de inegável qualidade. Pronta para lançar seu novo CD, "Mulheres da Mangueira", que contou com as participações de Chico Buarque, Zeca Pagodinho e Erasmo Carlos, dentre outros, Rosemary falou sobre passado, presente e futuro em longa entrevista a Marcelo Fróes - revelando, também, detalhes sobre o ambicioso projeto de previdência para a classe artística, que idealizou e batalhou junto ao Governo Federal e que vira realidade em 2007 após ter sido anunciado no ano que passou.


Marcelo Fróes

Vamos começar falando sobre seu novo CD, "Mulheres da Mangueira", finalizado agora em 2006 e pronto pra ser lançado em 2007.
O caso é o seguinte, o projeto demorou um pouco porque precisava de pesquisa. Pra falar sobre as mulheres da Mangueira, é um assunto vasto e rico. E eu contei com a colaboração da Nilcemar, que é a neta do Cartola e que hoje em dia é presidente do Museu da Imagem e do Som. Ela que me deu muitas das coisas, quase tudo que está ali de informação e de nomes de pessoas, em tempos diferenciados. E aí eu comecei a fazer uma espécie de pesquisa, em que inclusive eu também com a colaboração do Zeca Pagodinho - que me deu sugestão de algumas canções que eu botei no CD. E depois aí encomendei mesmo, pra vários compositores, as canções e os temas envolvendo os assuntos. Então encomendei pro Paulo Sérgio Valle, pro Nilton Barros, pro Erasmo e pro Carlos Colla, dentre outros. Enfim, aí eles desenvolveram os temas específicos pro projeto. Ou seja, falando nessas mulheres todas. Inclusive, a música que eu canto com Zeca Pagodinho foi feita pelo Arlindo Cruz e fala da Dona Neuma, da Dona Zica e da Clementina de Jesus. Aliás, ao que indica, neste ano de 2007 são 20 anos de morte de Clementina. Parece que vão ter algumas homenagens a ela, inclusive, soube pelo maestro Ivan Paulo. Então essa música ficou muito legal. Chico Buarque fez uma canção belíssima pra Mangueira e, enfim, a coisa foi indo de uma tal maneira... que demorou um pouco. Depois vieram as canções com os assuntos certos e aí fomos procurar quem seriam os maestros arranjadores. E, como eu trouxe a Mangueira pra alguma coisa do estilo da Bossa Nova, eu chamei o maestro Leandro Braga... pra fazer só essa praia, das músicas que seriam por aí. Chamei o Fernando Merlino, chamei o maestro Ivan Paulo e também o Zé Lourenço. São quatro os maestros arranjadores... e os músicos são de primeiro time mesmo. E aí a gente começou... e gravamos no estúdio do Guto Graça Mello. Foi trabalhoso e eu acho que o resultado final ficou muito bom. Eu acho que é um estilo que o mercado não tem; ou seja, eu trouxe o samba pro meu estilo... e essa é a grande verdade. É uma coisa que tem linha melódica, eu não perdi a minha identidade como cantora de voz melodiosa e de produtos ligados à área romântica. Eu trouxe tudo isso pra minha personalidade e adaptei tudo isso pro meu estilo. E é o que o maestro Ivan Paulo até escreve no encarte, que contém depoimentos dos maestros. Ele acha que realmente é um novo caminho, não só pra mim mas também pra música popular brasileira - dentro de uma roupagem diferente pro samba, de uma forma mais glamourosa e ao mesmo tempo mais detalhada, com algumas coisas de muito bom gosto.

Todo este projeto dependeu de elaboração, aprovação e captação de patrocínio, não? Por isso você ficou esse tempo sem gravar?
Isso, isso. Eu saí da Continental/Warner num momento em que ainda tinha contrato. Pedi a liberação, depois eles fizeram compilações. Gravei um disco pra RGE, vendido no Mercosul, cantando coisas em português e em espanhol. Foi um disco muito bonito, mas, se você não tem verba pro marketing e pra todas aquelas coisas...

Você acaba de fazer um disco de samba, depois de ter até cantado samba nos anos 70. Mas nos anos 80 e 90 você gravou discos que remetiam ao mercado sertanejo ou country, não?
Não, não. Nos anos 90... Eu na realidade sempre declarei que se gravar em uma primeira voz, em uma segunda ou em uma terceira, não significa que você seja sertanejo. O meu questionamento, comentário ou observação é de que, na realidade, a verdadeira música sertaneja já ficou para trás há muito tempo. Eles vieram pra minha praia, desde aquele momento. Eu até declarei isso várias vezes, dizendo que, ao se cantar daquele jeito, não significa que você seja sertanejo... porque Simon & Garfunkel faziam isso e não eram considerados country. Eu declarei isso várias vezes que não era bem assim, mas as pessoas achavam que de repente, pelo fato de eu ter gravado alguma coisa de autores que se diziam sertanejos, e que naquele momento não eram, eu poderia ser também. E aquilo, de uma certa maneira, eu falei em muitas entrevistas - quando eu disse que eles é que tinham vindo pra minha praia, porque a verdadeira música sertaneja não era mais aquilo que a gente ouvia ali. Pra mim, era Renato Teixeira, Almir Sater, Pena Branca & Xavantinho, Tonico & Tinoco etc. É um tempo em que realmente aquilo era sertanejo, como música de raiz. Depois, eu não acho que Chitãozinho & Xororó, Zezé di Camargo & Luciano, Daniel ou Leonardo sejam sertanejos. Eles começaram com essa cara, pra talvez entrar numa coisa que de repente acharam... mas não tem mais nada a ver. Mas continuam dizendo que eles são artistas sertanejos... e eles fazem todas as feiras agropecuárias. Tudo isso pra mim não existe mais. O que existe são interesses comerciais, de se colocar os produtos de qualquer forma nesses seguimentos que são seguimentos de muito dinheiro e que têm um mercado muito forte, porque o interior de São Paulo é muito rico e realmente tem muitas fazendas e muitas opções. E aí as pessoas botam um chapéu de couro e vão lá cantar, mas eu acho que essas feiras agropecuárias vão ter que abrir mesmo... porque ninguém suporta mais, na minha opinião como artista e como espectadora, você ter só meia dúzia de profissionais trabalhando dentro destes seguimentos. Digo isso tanto quanto ao pessoal da música baiana, como o pessoal do sertanejo. O que é que acontece? Fica a mesma coisa todo ano e o artista não tem tempo de se renovar. Essa é a minha opinião, como artista, e é por isso que sabiamente alguns artistas americanos vão viver a vida inteira em Nashville e ficam sabendo que vai passar o ano inteiro fazendo a mesma coisa e não vai ter novidade! Mas aí o mercado começa a cair, porque ninguém injeta novidades... até pra você poder atrair um público que queira ver coisas, entendeu? Para um artista de carreira mesmo, eu particularmente acho que não dá pra todo ano gravar um CD novo. Esta é a minha opinião. Você precisa fazer show no país inteiro, depois parar e ter inspiração para se dedicar a um novo trabalho.

O mercado fonográfico já não cobra dos artistas aquela coisa de lançar um novo disco de carreira por ano.
Já não cobra há muito tempo... mas muitos continuam fazendo, se expondo na mídia de uma maneira absurda... e aí o público chega e diz: "De novo, fulano de tal?" Ninguém agüenta! Ao invés de ser uma coisa que produza um momento positivo para o artista, não dá certo. Quer dizer, o artista que hoje em dia pode se equilibrar no sentido de fazer televisão, sim... Mas não massacrar, como tem alguns que aparecem num mesmo dia em dois, três ou quatro programas. Você não suporta isso, porque tira aquela novidade ou aquela saudade do artista. Não que ele suma da televisão, porque ele não deve sumir, mas a televisão tem que abrir espaço pra todo mundo. A televisão não pode só ficar fazendo programa com meia dúzia do povo do sertanejo e com meia dúzida do povo da Bahia. Ninguém agüenta! É contraproducente pros próprios profissionais e pra nossa classe inteira. O que é que faz o encanto do público para com a gente? É a pluralidade! É saber que eu canto de um jeito, a Ivete Sangalo canta de um outro jeito, a Alcione canta de um outro jeito, o Zeca Pagodinho canta de um outro jeito e o Chitãozinho & Xororó cantam de um outro jeito. Na hora em que você tiver um programa com essa pluralidade, os artistas são mais valorizados... porque você consegue ver o talento de cada um, individualmente, sem ser uma clonagem e todo mundo ficar parecendo com todo mundo.

Uma das coisas que eu percebo que falta para você, pelos shows e musicais que fez ao longo dos anos, é um DVD.
É, mas se Deus quiser eu vou fazer este ano. Eu tenho algumas coisas gravadas e guardadas pela TV Cultura e pela TVE. Eu tenho feito algumas coisas muito bonitas, porque eu sou uma cantora que foi feita na televisão e no palco. Então a minha visão da coisa é muito mais ampla... e é por isso que eu tenho comentado com algumas pessoas que quero, no futuro bem próximo, fazer um curso de direção só de musicais. Porque eu acho que o Brasil tem uma carência muito grande nessa área, inclusive na própria televisão brasileira. A gente tem uma carência muito grande de diretores que se especializem nesta área...

... com modernidade, né? O formato aqui parece muito ultrapassado.
Olha, posso dizer uma coisa pra você? Se você for procurar coisas feitas na maior emissora da América Latina, em que se concentram grandes profissionais e que tem dinheiro produções maravilhosas, você não vai ver grande coisa. Porque teria que mandar todo mundo pros Estados Unidos... pra pegar toda uma tecnologia moderna, que se tem agora e já de algum tempo, mas que se renova com a rapidez com que o mundo tá indo. Quando eles resolvem fazer a coisa de verdade, meu querido, é a única coisa que eu ainda admiro no americano. Eu sou muito linkada nessas coisas, sou muito interessada e sempre que posso vou ver de perto tudo isso. Mas acho que o Brasil precisaria reencontrar o caminho dos musicais em televisão, que infelizmente foi perdido por problemas de gravadora, de jabá e de pessoas que de repente confundiram esse nosso meio - ao achar que todo mundo podia ser artista, mediante um pagamento ou a influência de alguém importante. Tudo isso ficou uma confusão tão grande, que os musicais foram se perdendo dentro da televisão. Porque as gravadoras começaram a ter que ter uma voz ativa dentro das emissoras de televisão e as emissoras acham que os musicais não davam a audiência que precisavam. E por que é que não davam? Porque, no fundo, na hora em que o programa de televisão tem produção, cachê etc, realmente vai dar audiência...

Eu nem lembro qual foi o último grande musical na televisão.
No dia em que a produção do Faustão resolveu fazer um programa que colocava os profissionais ensaiando a semana inteira, pra depois poderem se apresentar por três ou quatro minutos, você vê a audiência que ganhou. A dança faz parte da minha vida desde sempre, porque eu sou a cantora que botou perna de fora e bailarino pra dançar junto comigo no palco. Então eu sempre valorizei a figura do bailarino e do dançarino, e sempre tive muitos problemas com os diretores das gravadoras por onde passei... porque eu tinha que dizer que uma artista, diante de suas possibilidades, pode cantar, pode dançar e pode representar. Eu sempre tive a negação dos diretores de gravadora, que diziam pra mim "ou você vai ser cantora, ou você vai ser atriz"... "ou você vai cantar, ou você vai dançar"... Pra você ver a mentalidade.

Foram pouquíssimas as vezes que você atuou como atriz, né?
Foram três novelas, mas eu também fiz teatro. Silvio de Abreu me convidou pra fazer uma novela inteira e eu não tinha condições, por causa de disco saindo e de viagens. Eu tive problema. Você sabe quem me convidou pra ser mocinha de novela? Cassiano Gabus Mendes! Outro grande diretor, Walter Avancini, que lançou Maitê Proença, ele sempre me disse: "Rosemary, você tem rosto e tem tipo, você tem biotipo pra ser uma estrela de novela!" E eu sempre resisti a isso em razão da minha prioridade como cantora, entendeu? Mas eles sempre disseram isso pra mim: "Você nasceu pra cantar e você nasceu pra representar! É uma questão de você encarar tudo isso!" Mas, pra eu poder encarar, quando o Cassiano me chamou pra fazer "Ti Ti Ti", era pra eu ter feito o personagem da Tânia Alves, mas não pude aceitar... porque eu tava indo mais uma vez para o exterior. Tânia Alves também não consegue encarar as duas coisas...

Fábio Jr. consegue, ainda que tenha que alternar fases.
É, mas agora disse que não quer mais. A carreira dele voltou a bombar desse jeito porque eu vi ele dando uma declaração na televisão, dizendo que ele tinha feito a opção de ser cantor e que não queria ficar mais preso àquele negócio de novela. Mas agora eu vejo que há uma visão do Max Pierre, da Universal, com relação à Marjorie - que hoje está na novela. Se não houver um respaldo, não adianta que não rola. É investimento! Mas isso tudo só está sendo possível porque felizmente alguns executivos que estão aí há algum tempo viram a minha história. Eu sempre briguei por tudo isso e eles não conseguiam enxergar, mas depois da Thalia ter feito novela e vendido muito disco tudo mudou. Eles começaram a perceber que isso daí podia dar certo, mas foi preciso isso vir lá de fora... "malhado", bom sentido da palavra, pra eles poderem entender que isto sempre foi possível. É uma questão de visão, que infelizmente eles não tinham.

É mas também existe muito preconceito por parte da crítica musical, que por exemplo nunca deu muita chance pra essas atividades paralelas.
É, mas no nosso país temos grandes artistas e em todas as áreas. Concordo que a gente teria que ter mais espaço, literalmente para mostrar como as pessoas estão e o que é que elas fazem mesmo. Isso não é feito, mas programas como o do Raul Gil dá oportunidade a novos e antigos profissionais. Gilberto Barros também dá espaço, sei que o Faustão também... mas acho que talvez precisasse abrir um pouco mais... pra poder mostrar outras pessoas, que não as mesmas que sempre aparecem no programa. As pessoas reclamam... e, na hora em que os profissionais se tocarem de que fazer sucesso é uma coisa e passar feito meteoro é outra, verá que marcar o nome dentro da Música Popular Brasileira é uma outra coisa.

Como atriz, além das novelas e do teatro, você também fez cinema, não?
Eu fiz uma participação num filme do Renato Aragão, "Na Onda do Iê Iê Iê". Depois eu fiz um filme chamado "Jovens Pra Frente", dirigido pelo Alcino Diniz. Foi um filme muito bonito, estrelado por mim e pelo Jair Rodrigues. Acho que foi o último filme do Oscarito, ou o primeiro em cores, não lembro bem. Ninguém que eu saiba tem isso em vídeo, porque na época foi feito com patrocínio etc. Eu só sei dizer que eu, Jair e Alcino fomos contratados pra fazer. Mas também tem um detalhe, que é o fato de termos começado muito cedo e ainda tendo que aprender as manhas dessa profissão. Por isso muitas coisas se perderam, até porque nosso país tem muita dificuldade com a memória. Mas depois eu fiz um outro chamado "Meus Homens, Meus Amores", já no início da década de 80. Foi um filme legal, porque eu nunca quis usar muito da sensualidade.



O cinema brasileiro sempre tinha sensualidade, nos anos 70 e 80. Sempre tinha insinuação.
Tinha muita, muita... Mas o que eu sei, no meu caso, o filme que eu fiz não tinha absolutamente nada disso. Porque, quando veio a sinopse pra mim, eu falei: "Ou é assim... ou eu não faço!" E aí eles aceitaram o que eu quis e acabou, porque na realidade eu sou uma mulher sensual e me considero uma mulher feminina... mas eu acho que tudo isso tem que ser muito bem dosado, para que não entre no campo da vulgaridade.

A sua beleza sempre foi muito exposta, principalmente nos anos 70 e 80. Já em 1972, a gente vê isso num compacto com músicas do Taiguara e que você aparece na capa vestida de maiô e molhada na beira do mar.
Eu acho isso maravilhoso. O meu trabalho sempre teve muita sensualidade... mas sempre com muito bom gosto, porque na realidade eu sempre primei por este lado. Eu sou muito exigente, eu sempre gostei muito da coisa do glamour de fazer um trabalho que aguça o sonho de quem está assistindo ou ouvindo. Agora, eu acho que teve um tempo do qual eu não participei e do qual eu sempre achei que não fazia a minha cabeça. Essa coisa de se levar a sensualidade pra outros caminhos, já de uma coisa muito "sem mistério".

Mas você se sentia pressionada? O próprio título do filme era chamativo, "Meus Homens, Meus Amores"! Tudo foi num crescente e eu percebo pelas suas capas que o auge disso aconteceu quando você posou para a Playboy em 1985, depois de ter feito ensaios para a revista Homem no início dos anos 80.
Existem outros homens na vida e que são amores, entende? O título tinha uma dubialidade, uma malícia que morreu por ali. Mas tudo que eu fiz e tenho feito, eu faço porque acredito e porque me dá prazer. Senão eu não faço, porque não vou fazer bem e não vai ser bom pra ninguém. Agora, a coisa do glamour, da beleza e da sensualidade, de você mostrar uma mulher feminina, bonita e bem tratada, isso é uma outra coisa. A coisa do mau gosto a minha formação nunca me permitiu aceitar. Quando eu saí nas revistas, já foi depois de inúmeros convites. Mesmo porque, pra mim, que sempre estive envolvida no mundo da beleza e do glamour, juntando isso pra fazer uma imagem e me manter nela com muita dignidade, eu sempre fui uma pessoa muito saudável. Eu costumo dizer pras pessoas que eu fiz uma opção na vida. Eu fui pela saúde, eu quero ter sempre saúde... e, por isso, eu sempre fui uma mulher que correu, que malhou e que fez dança. Eu sempre tive um corpo bastante definido, e isso me dá muito prazer. Quer dizer, eu não tenho isso pra fazer com que as pessoas me achem bonita. Pra mim, primeiramente tem que agradar a mim... pra depois eu me sentir segura e então todas as outras pessoas possam dar sua opinião. Eu sempre fui convidada e, quando fui fazer a Playboy, eu reuni minha família - meu pai, minha mãe e meus irmãos - e perguntei o que eles achavam. Eles disseram: "Você tem que ter o controle, como sempre, daquilo que deverá ser publicado! Se eles concordarem com isso, você faz; senão, não faz!" E foi a mesma coisa que eu fiz: escolhi as fotos, as poses e é por isso que não tem foto ginecológica. O corpo de uma mulher é um corpo muito bonito, quando ele é mostrado com beleza. Essas coisas eu tenho feito com essa filosofia de vida que tenho. Ou é assim, ou não vou saber fazer.

Você foi convidada para participar do programa "Rei Majestade", do Silvio Santos?
Olha, eles deixaram um recado aqui na minha casa... muito sutil... perguntando, se fosse do meu interesse, porque eles não sabiam se eu aceitaria ou não, que eu retornasse a ligação etc. E eu não retornei, porque eu realmente não faço esse gênero de programa. Eu acho que esse estilo de programa não tem o formato da minha cabeça. Não tem nada a ver com a minha maneira de pensar e com a minha maneira de agir como profissional. Não é a minha praia, não.



Você não gosta de ser muito associada à Jovem Guarda.
Na verdade, eu não tava ali...

Mas você estava ali naquele momento e participava da "música jovem"...
Não. O fato é o seguinte. Enquanto estava todo mundo em São Paulo, trabalhando lá no programa com Roberto, eu fiquei completamente à parte disso tudo. Eu tive um momento em que conheci e convivi com essas pessoas aqui no Rio de Janeiro, mesmo porque minha irmã era garota propaganda. Terezinha, do Chacrinha, é minha irmã... e ela já era famosa, quando eu não era famosa. Eu queria ir atrás dela pra conhecer as pessoas... e minha mãe ficava sempre muito preocupada, porque eu tinha que estudar e eu tinha que ter o meu tempo... pra que as coisas pudessem acontecer na minha vida, né? Eu conheci Erasmo e tal, que eram amigos nesse momento da minha irmã Terezinha. E, com o tempo, e com muita dificuldade, eu fui indo... fui indo... e aí eles todos já estavam na mídia, todos eles já estavam trabalhando. Pessoas lindas como Simonal, Jorge Ben, Roberto, Erasmo e Carlos Imperial, todos eles já... E eu fui, ao poucos, conhecendo a todos eles e tentando a minha vida. Tivemos um momento em que tinha um programa do Jair de Taumaturgo aqui no Rio, e que colocava esses artistas todos pra trabalhar nas tardes de sábado. O tempo passou, as tribos foram se formando... essa que é a grande verdade... e eu não fiz parte dessa tribo, e não quero nem entrar no mérito desta questão... e eu fiquei no Rio de Janeiro. Eu tive um momento em que ia esporadicamente a São Paulo, sendo convidada de alguns programas da Record... o que era quase nada.

No Jovem Guarda também?
Se foi uma vez, foi muito, cara... Se foi uma vez, foi muito! O meu momento com Wanderley Cardoso também foi vapt vupt, também não seguiu e eu sei que vim pro Rio de Janeiro e aqui fiquei. Aqui fiz a minha história e daqui saí, ganhando programa do Flávio Cavalcanti como a cantora mais bonita. Fui apresentar a "Grande Parada", fui contratada da TV Tupi e fazia todos aqueles programas... Flavio Cavalcanti, Bibi Ferreira, Cidinha Campos etc... mas depois dali a minha vida foi pro palco... e, no que eu fui palco, depois fiquei na TV Globo e fiz todos os musicais da emissora, sendo dirigida pelo Augusto César Vanucci. Fiz meus grandes shows, cinco ou seis meses em cartaz, viajando muito.

Voltando à época da Jovem Guarda, você era a "fada loura". Pode até ter gravado música de Rildo Hora ainda nos anos 60, mas seu primeiro disco era bem "broto" e, além do mais, você está elencada na letra de "Festa de Arromba".
Não pela "festa de arromba" em si, mas sim porque o Erasmo sempre foi uma pessoa que me olhou com outro olhar. Ele sempre soube que eu nunca estive dentro da patota, que eu sempre fui uma guerreira e que eu sempre fui uma profissional que no fundo ele sabia que ia encontrar o caminho sozinha. Eu não fiz parte de patota nenhuma, mas é que as pessoas queriam, de alguma maneira... por sentir que eu não corria junto e que eu era uma profissional que estava o meu crescimento, estudando e fazendo. É o que eu digo, é muito fácil querer juntar. No fundo, no fundo, cruelmente falando ou não, a maior parte das pessoas só gosta das pessoas vencedoras. Eram tribos completamente separadas, essa é a minha visão. Não sou a dona da verdade, mas eu andava com a minha mãe pra cima e pra baixo... e ela sempre me orientava nas coisas... e eu sempre aceitei, porque na realidade eu não sabia de nada. Essa é que é a grande verdade. O fato de eu ter começado e de tantas pessoas terem começado, umas mais cedo que outras, só tem de comum que não havia experiência para conviver e administrar a profissão. Não é fácil, nunca foi fácil. Eu realmente via aquilo tudo, tava todo mundo lá... e uma coisa eu sabia. Eu podia não saber o tudo que eu queria, mas o que eu não queria já estava começando a ser delineado dentro de mim. Eu sabia que eu tinha que me preparar para enfrentar uma profissão como esta, porque eu ia ter que renunciar a muitas coisas da minha vida pessoal em prol da minha carreira se eu quisesse realmente ter resultados. E eu me propus e mergulhei. Sou sagitariana e, como boa sagitariana, pra mim o ontem existe e tem um peso... mas o hoje pro amanhã tem um peso muito maior. Por causa de responsabilidade, de crescimento, de melhoria. Eu sou assim, o meu temperamento é de busca e de crescimento. Eu sempre fui assim.

Ainda nos anos 60, a mídia te flagrava realmente ao lado de outro tipo de artistas. Lembro de você em capas da Revista do Rádio ao lado de Nelson Gonçalves ou Noite Ilustrada.
Sim, mas o fato de eu estar num outro ambiente não significava nada. Naquele momento eu era uma pessoa extremamente imatura e despreparada para esta profissão. Naquele momento eu não tinha condições de enfrentar aquelas pessoas extremamente sedimentadas na profissão, com não sei quantos anos já de uma carreira que eu não tinha.

Qual foi o momento? Quando você fez aquele compacto em homenagem a Carmen Miranda?
Não, o negócio da Carmen foi um museu que eu trabalho pra ela. Eu nem fiz show naquela época, só gravei um compacto na época em que ajudei a fazer o museu. Naquela época eu já estava trabalhando na TV Tupi aqui do Rio e fiquei sabendo do projeto para o Museu Carmen Miranda ali no Aterro do Flamengo. O momento em que eu comecei a viver da profissão e que me permitiu viver daquilo que eu ganhava foi mesmo a partir de 1977 ou 1978. Foi o momento em que eu me senti segura, tipo "o meu nome está na porta e as pessoas vão pagar pra poder entrar e me ver!" Foi o primeiro show que eu fiz, "Rose... Rose... Rosemary". Aí, meu querido, começa verdadeiramente a minha história como cantora e como artista plural.

Depois teve aquela famosa apresentação na Casa Branca e você conheceu o presidente Jimmy Carter.
Sim, já bem depois... ele ficou na presidência até 1981. Eu tinha casa lotadas, quatro ou cinco meses direto. Meu apelido sempre foi "a galinha dos ovos de ouro", sempre onde eu passo pra trabalhar. Você vai aprendendo a lidar com donos de casa, o cara do som, o garçon, o público etc. Eu fui aprender tudo isso e ali eu começo a subir um outro tipo de degrau na minha vida profissional, com a certeza de que meu nome esta realmente dentro do coração das pessoas. Foi aí que minha história começa como uma cantora da Música Popular Brasileira, com público e com reconhecimento.

Você tem registro de todos estes shows? Você mandava filmar?
Olha, "Rose... Rose... Rosemary" foi filmado pela TV Cultura. Um outro show que eu fiz, de 79 pra 80, também foi gravado. O de 1983 foi gravado, depois eu viajo bastante, e o de 2002 também foi gravado. Eu quero pegar todos os meus musicais na Globo também.

Como você se envolveu com o projeto CulturaPrev?
Quem acompanha minha vida profissional, sente que eu sempre tive ligada com as causas sociais do meu país. Eu lá atrás, no começo de minha carreira, participava de um programa chamado "Sete Samurais", que construía creches em vários bairros do Rio. Eu sempre fiz shows especiais, como muitos colegas, e depois comecei a me envolver na batalha pelo Museu Carmen Miranda. Continuei fazendo meus shows beneficentes e, já nos anos 80, procurei o Presidente Sarney pra pedir que desse uma olhada na filtragem sorológica nos bancos de sangue... porque eu tinha estado com o Betinho, na época em que o Henfil tinha escrito alguma coisa pro meu show "Paixão", que eu fiz em São Paulo. Eu soube que ele estava doente, depois tive a notícia de que o Cazuza também estava doente. Procurei o Presidente Sarney com uma carta do Betinho, e pedi a ele que por favor zelasse pelos bancos de sangue etc.

Henfil e Betinho eram hemofílicos, como muita gente, e pegaram o vírus HIV por causa disso. Eu pedi que ele mandasse um projeto de lei para o Congresso, para que os bancos de sangue fossem fiscalizados. Era preciso tomar uma providência imediata, senão ia ser uma coisa horrorosa. Ele me prometeu providências urgentes e realmente aconteceu. Eu fiquei muito envolvida naquela época, fiquei muito fragilizada porque eu queria ajudar todo mundo com o tal do remédio AZT - que vinha de fora e ninguém tinha. Todo mundo me procurava e eu comecei a ficar um pouco deprimida. Eu neste momento freqüentava o "Gota de Orvalho", do Mário Trancoso, que a Simone também freqüentava, e cheguei à conclusão de que poderia ajudar muito mais as pessoas fazendo outras coisas e não diretamente no front, como eu estava. E foi o que eu fiz, e aí pude fazer muitas outras coisas... passando aquele período horroroso, da perda de tantos amigos e que foi um momento muito difícil pra todos nós. As pessoas achavam que aquela doença era uma doença somente de homossexuais, né? E, na realidade, nenhuma doença dá em parede ou em árvore. Elas estão aí e as pessoas precisam se informar e se esclarecer, pra saber e ter sempre saúde. Depois deste momento, já nos anos 90, eu fui fazer um programa na Rádio Atual em São Paulo. Chamava-se "Show da Rosemary", programa diário que foi ao ar por um ano e meio em 1996, quando fui morar em São Paulo. Eu falava de várias coisas.

Fiz uma campanha chamada "Adote Uma Família Carente Nordestina", em que fui ao Itamar Franco para pedir apoio à campanha. Eu não peguei em dinheiro, mas eles passaram verba do Banco do Brasil e da Caixa Econômica para os Correios... e mandou-se fazer umas caixas de papelão, onde se podia colocar entre 20 e 30kg do que as pessoas quisessem enviar como donativos. Foi instalado um posto dos Correios & Telégrafos dentro da Rádio Atual... e todo nordestino que morasse na cidade de São Paulo tinha o direito de todos os meses ir até a rádio e ter frete e embalagem de graça, pra mandar o que quisesse pra sua família. O Governo demarcou todas as áreas de pobreza e de carência do país, para onde poderiam ser enviadas as caixas. Foram mais de 100 mil famílias e, contando que cada família tem entre 4 e 7 pessoas, você imagina... O posto ficou instalado lá durante um ano e meio. Aí, depois disso, eu já estava há muito tempo preocupada com muitas coisas da nossa profissão, vendo tantas pessoas numa situação esquerda que sempre me incomodou e me incomoda. Eu havia começado a conversar com Stepan Nercesian há um tempo atrás e aí não dava, porque a gente procurava bancos particulares e ficava em 1 milhão pra se levantar uma previdência. Era muito dinheiro e nós é que tínhamos que devolver este dinheiro, então tivemos que esperar... mas no dia da morte do Dr. Roberto Marinho eu já estava em processo de procurar o Lula e o Gilberto Gil e conversei sobre isso com Marluce Dias durante o velório, na casa das Laranjeiras. Eu falei das idéia de juntar todos os artistas numa só previdência, para o país inteiro, e ela disse que era uma idéia muito boa.

Eu disse que precisava de ajuda pra formatar o projeto, tive reuniões com presidentes de sindicato e aí começamos a subir a ladeira. Pedi audiência com o Ministro Gil, conversei com ele sobre todas as mazelas e ele concordou com tudo, dizendo que eu fosse na frente e que ele me daria suporte. Então, passados quase três anos e meio disso, agora passou e este ano vamos lançar este ano no Planalto - juntamente com o Presidente Lula. Vai ser feito uma série de filmes que eu vou produzir, no sentido de estar junto com o diretor etc. Serão exibições instituições em emissoras de TV e rádio do país inteiro. Muita gente já aderiu, muitas categorias já. É um fundo que será administrado pela Petros, juntamente com a Mongeral Seguros. Eu também estou pleiteando que todos tenham um plano de saúde básico. Como os fundos modernos não permitem isso, pra gente eles prometeram que vão rever tudo isso e já me prometeram que em 2007 a Petros resolve tudo isso, na figura de seu presidente Wagner Pinheiro. Meu envolvimento é somente de garota propaganda e presidente e honra, mas não tenho nem quero nenhum cargo de nada. Maiores informações pelo 0800253545 ou através do meu site www.individualidade.com.br/rosemary .

Este ano tem show da Mangueira?
Tem sim, será no dia 5 de fevereiro e este ano faremos naquela nova casa no Aterro... o Vivo Rio. Parece que este ano vai ter venda de ingressos, porque a casa é muito grande e comporta público além dos convidados. Há mais de dez anos a gente faz, este vai ser o décimo primeiro. Eu já cansei de falar pra gravarem os shows, que eu saiba nunca gravaram. Até o ano passado foram realizados no Canecão, mas espero que a partir de agora a gente possa. É uma pena, é um desperdício, e cada ano é uma história nova e ninguém canta as mesmas coisas. Tudo bem produzido, uma coisa linda.