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Entrevista

The Originals continuam fazendo sucesso

Elias Nogueira

Miguel Plopschi, Pedrinho da Luz, Cleudir Borges, Ed Wilson, Netinho, Nenê e Marcio Augusto, este último o mais no membro da banda, formam The Originals - banda de lendários ex-integrantes dos emblemáticos grupos dos anos 60, The Fevers, Renato e seus Blues Caps e Os Incríveis. Depois do sucesso de vendagens do seu primeiro registro, 60 mil DVDs e 70 mil CDs, a banda lança o segundo torpedo com DVD e CD simultaneamente - com vendas iniciais garantidas na prestigiosa casa de 20 mil cópias. Em entrevista exclusiva, a banda demonstra que vai muito bem e já dá como passado a saída repentina do vocalista Almir Bezerra - que depois de gravar o primeiro lançamento, resolveu retomar sua carreira solo. Acompanhe a conversa com Miguel Plopschi e Nenê, publicada originalmente no International Magazine.

Falem um pouco sobra a saída do Almir Bezerra e a entrada do novo integrante Marcio Augusto.
Miguel Plopschi - Quando formamos a banda e o trabalho começou, já com os membros certos, inclusive o Almir, ele deu uma mexida na vida dele - que eu até cheguei a comentar com ele que poderia dar problema, tendo em vista que ele se mudou para Recife. Era como se eu entrasse para a banda e me mudasse para Bucareste. É óbvio que a banda é do Rio e tem dois componentes que moram em São Paulo. Mas São Paulo é aqui ao lado, são 400 Km! Agora, em Recife com a família inteira, tem ensaio, tem TV, outra hora tem show. O sujeito fica muito fora de casa. O Almir acabou sofrendo uma pressão muito grande, do ponto de vista logístico! Eu previa que ia dar errado... e não deu outra coisa! Ele decidiu que ia ficar por lá mesmo e fazer a carreira solo. Nós tentamos resolver, até porque já tinha feito disco e DVD. Argumentei com ele que havia assinado um contrato... mas o Almir é teimoso desde os 18 anos! Ele é um cantor e compositor maravilhoso, mas não foi possível. Ele inclusive é membro honorário da banda. Por uma coincidência, no inicio do ano de 2005, o Nenê havia me levado um CD com seis músicas de um cantor novo chamado Marcio Augusto, que estava procurando um espaço no meio. Cheguei a responder o Nenê que não era fácil, até porque eu não trabalho mais em gravadoras. No momento em que o Almir saiu, eu estava com esse CD em mãos e lembrei! Por que não tentar? Foi o que aconteceu! O Marcio Augusto tem uma qualidade extraordinária, é um jovem de 36 anos e tem a levada, a lágrima e o espírito dos anos 60 e 70! Fizemos uma experiência com ele e o resultado foi fantástico! Ele arrebentou, tanto nos vocais como guitarrista!

Pelo que me parece, acho que ele tem o tom da voz do Roberto Carlos nos idos anos 60.
MP - Exatamente! Acho a voz dele muito semelhante à do Roberto Carlos em determinados momentos nos anos 60, principalmente em 1966. Hoje ele está integrado, tem oito meses de banda e está totalmente à vontade.

O primeiro CD foi uma penca de sucessos. Gostaria de saber como foi o acordo para encaixar todo o repertório?
MP - Na verdade quem decide o repertório sou eu, mas é claro que os rapazes confiam em mim e dão sugestões. Em toda democracia todos opinam, mas tem sempre um que bate o martelo para não ter confusão. Nós temos uma discografia muito rica, tanto os Fevers quanto o Renato e seus Blues Caps e Os Incríveis. São vários hits e tivemos um farto material, tanto para o primeiro lançamento quanto para o segundo. As músicas são todas testadas em público e até as três musicas inéditas foram bem recebidas.

Teve algum problema para liberação das músicas?
MP - Nenhum problema. Até as que foram sucesso com Roberto Carlos, não teve problemas. Mesmo porque não são de sua autoria. Tanto "Ciúmes de você" como "Splish splash" não tiveram problema algum!

Fale-me das inéditas.
MP - O Nenê me mandou uma música que gostei muito, e que estava naquele CD que te falei do Marcio Augusto. "É só você que eu quero" é uma música bem pop, na praia do Dire Straits. Outra música, "Fique aqui comigo", que é de minha autoria com Ed Wilson, foi uma idéia que tive - de que sempre tenhamos canções inéditas no formato dos anos 50 ou 60, em termos harmônicos e de idéias, bem na praia do Litlle Darling, mas com som moderno. Ele foi um divisor de águas, depois dele muitos outros apareceram com a mesma harmonia. Exemplos são "Diana" com Paul Anka. e "Oh Carol", com Neil Sedaka. Então fizemos uma música nessa praia e chamamos o Lobão para declamar. Ficou uma coisa muito legal e no espírito dos anos 50. Na terceira inédita decidimos gravar um funk, pra ficar mais inserido no contexto do rádio. Quando soubemos que a novela das 19h estava selecionando canções para um núcleo do Saara e coisa tal, mandamos e eles escolheram. Não para entrar na trilha sonora nacional e sim para estar no CD que vai sair agora somente de MCs, rappers, hip hops e funks. E está tocando na novela.

Você falou em Lobão como participação especial, mas chamou também o Samuel Rosa do Skank para cantar "Você não soube amar" - pérola do repertório do Renato e seus Blue Caps.
MP - O Samuel gosta imensamente do Nenê como músico. Nos encontramos no final do ano no show da virada da TV Globo e o convidamos para participar da gravação. Em abril ligamos pra ele e ele nos convidou para irmos a Belo Horizonte, em seu estúdio, para colocar a voz e ele escolheu a música. O Edinho e o Nenê foram para lá e foi ótimo.

E o Paulo Ricardo? Foi ele quem escolheu a música "Não devo mais ficar", uma versão para "Have you ever seen the rain" do Creedence Clearwater Revival?
MP - Sim, foi ele quem escolheu a música - dentre algumas sugeridas por mim! Ele veio ao Rio e arrebentou!



E o "Terror dos namorados", teve problemas de liberação?
MP - Não, porque a editora é a Irmãos Vitale. Não é da editora do Roberto e nem do Erasmo. Até porque a Índie pediu autorização e acho que o Roberto não iria impedir de gravá-la... porque ele não tem pretensão de gravar novamente e fazer sucesso. O Nenê foi quem fez a voz novamente e eu fiz um solo do sax que ficou muito legal. Gostei muito dessa faixa!

Fale-me de outro sucesso do RSB "Não me diga adeus" que é de autoria do Paulo César Barros. Ele chegou a ser cogitado para integrar o grupo quando em sua formação.
MP - Olha, quando fazemos a seleção, priorizamos os grandes sucessos. E quando a seleção é do Renato e seus Blue Caps, essa música não pode ficar de fora. Não teve problema nenhum quanto à liberação. E o Paulo César foi o primeiro a ser convidado. Ele pensou, pensou... e negou! Quando quis vir, nós já havíamos chamado o Nenê e não tínhamos como colocar outro baixista no grupo.

"Pensando nela" é uma versão que fez sucesso com os Golden Boys.
MP - Colocamos no repertório porque foi um dos grandes hits dos anos 60, de uma banda chamada The Holies. Claro que os Goldens Boys gravaram etc e tal, mas nós gostamos muito, tanto da letra quanto da música. E decidimos gravar.

Estive escutando o CD e a faixa "Ciúme de você" me deixou muito emocionado pelo fato de ter um arranjo de primeira linha, com um baixo pulsante e guitarras bem Beatles!
Nenê - (risos) Aquilo foi uma idéia nossa. A linha de baixo vem bem ao estilo de "Taxman" dos Beatles e caiu como uma luva. Acho que fomos felizes! Eu adorei!

Este é o segundo lançamento da banda, já com CD e DVD simultaneamente.
MP - Temos uma vantagem com a gravadora, porque nós fazemos tudo. Não tivemos que pagar músicos e a gravadora tem estúdio próprio. Como o primeiro DVD foi gravado no Canecão, decidimos fazer o segundo no estúdio - mais como um documentário. Não precisamos alugar nada e ficou diferente do primeiro.

Vai ter o terceiro CD e DVD simultaneamente?
MP - Claro que sim! Já está tudo bolado! Pretendemos fazer numa boate tipo Cavern Club, que poderá ser no Rio ou em São Paulo. Queremos um lugar que não seja grande e onde caibam no máximo 200 pessoas. Queremos o público bem perto, com gritaria, fumaça e tudo mais!

Venho notando que vocês desde que gravaram o primeiro DVD, não tocaram mais no Rio de Janeiro e pelo que me parece São Paulo também.
MP - O Rio de Janeiro está virgem para nós. O inicio de trabalho no Rio vai ser a partir desse lançamento. Pretendemos fazer o Canecão ou Claro Hall. Em São Paulo é a mesma coisa, pretendemos fazer o Tom Brasil.

Nenê, na época que você fazia parte da Jovem Guarda sempre foi discriminado por fazer parte do movimento. Mas depois que você passou a tocar com Elis Regina e outros, passaram a te ver de outra forma?
Nenê - Isso é interessante porque quando eu toquei com a Elis, o pessoal ia depois do show me cumprimentar e tecer elogios... falando que não sabia que eu tocava tão bem! Eu respondia que já tocava bem antes! (risos) Só que era outro tipo de música. Depois que Os Incríveis acabaram em 1972, eu virei músico de estúdio e passei a ser um baixista eclético. Toquei música de raiz, aquelas sertanejas mesmo! Bolero... Gravei com Elis e em todos os principais discos do Sergio Reis. Gravei com Cely Campelo, Raul Seixas etc... A diferença da Jovem Guarda, com esses que acham que sabem tudo de música, são eles. O mais engraçado foi um fato que ocorreu em São Paulo. Um dia, estávamos num restaurante e uma pessoa aproximou-se para pedir autógrafo. Só que não pediu para Elis e sim pra mim, por causa dos Incríveis. A Elis quase morreu de tanto rir. Expliquei que em São Paulo éramos muitos conhecidos. Quero dizer com isso que existe espaço para todos, sem essa de discriminação.