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Entrevista

Trio Esperança
Reunidos pela primeira vez em mais de 20 anos, os membros originais do Trio Esperança fizeram aclamadas apresentações nos palcos cariocas do Teatro Rival e do Bar do Tom em outubro último. Em entrevista exclusiva a Marcelo Fróes, realizada na ocasião para o Portal Jovem Guarda, Evinha, Mário e Regina falaram longamente sobre a volta e também sobre as lembranças dos velhos tempos.



Como foi que rolou esta volta?
M - Foi uma agradável surpresa. Normalmente elas vêm ao Brasil, mais à passeio, e - como elas tinham programado de vir agora - surgiu a idéia de fazermos um show. Nós concordamos e começamos a montar um roteiro de show, com as músicas da época etc, o que veio a coincidir com os 40 anos da Jovem Guarda. A gente também resolveu fazer.

E - A vontade existia já há muito tempo. A última vez que a gente cantou aqui no Rio foi há mais de 20 anos.

Quando é que vocês se tocaram de que estariam finalmente reunindo o trio original?
M - Olha, na verdade a gente pretendia fazer um show com todo mundo - inclusive os Golden Boys, juntando a família inteira. Faríamos um show com a galera toda, mas dessa vez ainda não foi porque os Golden Boys estão com a agenda cheia por causa da Jovem Guarda. Não deu pra conciliar a vinda delas com a nossa reunião.

Mário, sua volta à música vem rolando aos poucos. Você vem atuando como "suplente" dos Golden Boys. Como é que funciona isso?
M - Na verdade, em termos de palco, quando um deles não podia fazer o show, eu tava de stand by. Mas, na verdade, isso sempre aconteceu - desde praticamente quando nós paramos com o trio. Eu fui aos Estados Unidos com eles e também na Europa, quando eles lá foram para o lançamento do disco da terceira formação do Trio Esperança. Como o Waldir não pode ir, eu fui... mas eu nunca estive totalmente afastado da música. Eu sempre fazia alguma participação...

... que não era divulgada.
M - Eram mais participações de bastidores, eu fazia muito vocal em estúdio - em discos de outros artistas. É um trabalho que a gente sempre fez.

E - Mário sempre foi o mais estudioso da família.

Quando o trio parou, ainda nos anos 70, a impressão que deu é de que realmente você partiu pra outra.
M - Realmente, como função principal, eu parti pra outra... porque eu já vinha nessa área do ensino há algum tempo. Pouco depois da gente começar a carreira artística, eu também comecei a me envolver com inglês, principalmente. Terminei o curso e fui convidado a ser professor. E, nessa mesma época, também entrei pra faculdade de Veterinária e fiz a UFF em Niterói. Formei-me, exerci durante uns 6 anos talvez, simultaneamente à carreira.

E você, Evinha?
E - Eu só entraria pra faculdade depois do Festival, mas aí eu também não quis mais estudar. Quis cantar mesmo, não dava pra conciliar. Os estudiosos da família foram Mário e Ronaldo, que é advogado.

R - Ronaldo tá sempre com algum negócio paralelo.

Vocês fizeram esse show um pouco na reta final das comemorações dos 40 anos da Jovem Guarda. Se tivessem começado antes, talvez tivessem feito uma turnê ou até um registro em DVD. Vocês não pretendem ficar só nisso, né?
E - Não, como o Mário falou, a gente nunca conseguiu parar. Ninguém projetou nada, nós duas só concluímos que era o ano dos 40 anos da Jovem Guarda e percebemos que teríamos tempo de vir aqui. Resolvemos contactar o Mário, pois - se ele estivesse de acordo - a gente faria o trio.

R - A vontade surgiu antes dessa coisa dos 40 anos da Jovem Guarda, porque antes nós fizemos 40 anos de carreira em 2001 - se lembrarmos do primeiro disco gravado em 1961. Na verdade, a idéia ficava só na vontade... porque a gente nunca conseguia viabilizar a coisa. Mas dessa vez a Evinha insistiu e, como ela já tinha feito o Teatro Rival em maio, acabou dando uma injeção de ânimo.

M - A presença delas aqui é que viabilizou tudo.

Mas vocês precisam registrar isso num DVD.
E - Sim, nós vamos acabar fazendo. É que, dessa vez, nós já chegamos ensaiando - após 20 anos sem cantar juntos. A gente lembra bem das letras e das vozes, mas é difícil; tem que ensaiar mesmo, e muito. Então nós ensaiamos quase todos os dias, já pra poder cantar junto mesmo. Afinal, embora a gente já se conheça há mais de 50 anos, é meio difícil ficar tudo redondinho. A gente tinha inclusive cogitado de fazer São Paulo antes do Rival, mas não deu tempo... porque é muita coisa.





Vocês vão embora na semana que vem, sem data pra voltar?
E - Ah, eu acho que agora a gente vai começar a vir de seis em seis meses. Antes era de ano em ano, mas agora vai ser de seis em seis meses justamente, como você falou, pra registrar isso... já que a gente curtiu muito fazer isso de novo.

Há uns meses atrás, quando perguntei sobre a idéia de um DVD, o Roberto Correa falou que vocês tinham vontade de fazer alguma coisa juntos - como Goldenrança.
E - Isso vai acontecer, com certeza.

Voltando no tempo, como é que vocês trabalhavam no estúdio nos anos 60? Vocês acompanhavam toda a gravação ou só iam lá pra botar voz?
M - Não existia a tecnologia que existe hoje em dia, era praticamente ao vivo... em dois canais. Eles gravavam o acompanhamento e depois adicionávamos a voz. Nós íamos com papai, até porque os Golden Boys ainda estavam na Copacabana ou na Polydor. Nós entramos primeiro na Odeon.

O interesse por produção surgiu muito pro Renato e um pouco por Ronaldo. Isso não te interessou, Mário?
M - Olha, o Renato foi quem demonstrou de imediato interesse por produzir os nossos discos. Ele já se interessava por isso e começou produzindo nossos discos. Rossini Pinto também produziu alguns, depois foi o Renato. Dos homens, eu sou o caçula.

E - Renato só teve um certo escrúpulo de não produzir a família quando virou diretor artístico da Odeon nos anos 70. Ele ficava inseguro, então por pudor preferiu não produzir mais. Mas ele produziu todos os meus álbuns, até meu contrato com a Odeon ter terminado. Hermínio Bello de Carvalho chegou a produzir um também, numa época em que sugeriu que eu usasse o nome artístico de Eva.

M - Na verdade, não existia uma figura responsável pelo nosso trabalho - um produtor definido. Nós nos reuníamos, conversávamos e decidíamos juntos o que seria feito - os arranjos inclusive, pois os maestros nos deixavam muito à vontade pra criar e só corrigiam uma coisinha ou outra.

Como era na época em que Evinha já gravava seus discos solo? O trio participava dos discos dela? Ela participava dos discos do trio, ainda que sem crédito?
M - Sim, sim.

R - Nós fazíamos vocal nos discos da Evinha. Em praticamente todos, junto com os Golden Boys.

E - Pra fazer o repertório deste novo show, a gente curtiu muito ouvir os discos originais.

A formação dos grupos se deu muito em função da faixa etária, não? Afinal vocês tinham quatro "golden boys" em casa e três meninas para um trio feminino.
M - Sim, até porque os Golden Boys não foram um quarteto logo de início. Era uma dupla formada por Waldir e Roberto, depois Ronaldo entrou e por último o Renato. Formaram o Quarteto Estrela, mas ainda não cantavam profissionalmente. E aí, quando foram fazer programa de calouros, acabaram fazendo um concurso pra escolher um novo nome.

Como é que se deu a aproximação de vocês com o pessoal da música jovem, antes mesmo da Jovem Guarda?
E - Nós morávamos os sete, com papai e mamãe e os cachorros numa casa em Engenho de Dentro.

R - O primeiro a freqüentar nossa casa foi o Roberto Carlos, ele era amicíssimo do papai. Nós o conhecemos no programa do José Messias, na Rádio Guanabara. Ele fez "Festa do Bolinha" pra gente com Erasmo.

E - José Messias gravava os programas quase sempre lá em casa. Então, por isso, Roberto, Erasmo e Wanderléa estavam sempre lá em casa pra gravar. Não sei por que, era gravado na casa do "Seu Moacyr". Era um lugar que não existe mais, a rua mudou de nome. Todo mundo conhecia o endereço, a rua enchia de carros. Eu me lembro a partir daí, eu me lembro somente de algumas coisas. Mas me lembro de que o Messias ia gravar o programa lá em casa e que a gente fazia a maior festa.

M - A gente já os conhecia quando estourou o "Filme Triste", quando a gente fazia muita TV Record em São Paulo - antes mesmo do Jovem Guarda. A gente fazia o "Show do Dia 7".

R - Papai às vezes produzia uns shows nos subúrbios, reunido a gente com Roberto, Erasmo etc.

Como é que começou essa carreira paralela de vocês como cantores de estúdio, participando de discos de outros?
M - Acho que começou com Roberto Carlos, pois ele não queria fazer disco com coral do tipo que lê partitura. Uma vez ele chegou e nos perguntou se faríamos coro no disco dele. Acho que foi em "Jesus Cristo" em 1970, ou talvez antes. Na verdade, a gente nem podia... porque a gente era artista contratado da Odeon... e o Roberto era da CBS.

Deve ter sido naquela época sim, pois foi quando começaram aqueles discos dos Super Quentes - também em 1970.
E - É mesmo! (rindo) Que coisa incrível!

M - Aqueles discos são legais, eles vendiam pra caramba...

... mas ninguém ganhava royalties.
E - Mas a gente ganhava cachê pra gravar!

R - A gente também gravava os discos da Orquestra Som Bateau na Polydor.

E - E teve a época dos jingles de rádio. A gente gravava os jingles da Rádio Globo... João Saldanha, Washington Rodrigues, Aerton Perlingeiro, Airton Rodrigues... todos!

E quanto aos spots publicitários?
E - Não fazíamos... mas eu até que fiz o jingle do Barramares, composto por Renato e pelo Paulo Sérgio Valle, para um condomínio inaugurado nos anos 70. Renato compôs muitos jingles... Cremogema.

R - Evinha fez aquela primeira abertura do "Fantástico"...

E - ... e alguma coisa pra Disney também. Fiz o tema de "Bernardo & Bianca".

Tudo isso é muito curioso. Aquelas gravações como coristas em discos de outros são coisa inexistente hoje em dia, porque a vaidade do artista não permite que ele "preste serviços" para outros.
E - É engraçado, mas nós só trabalhávamos juntos... e entre nós mesmos. Era a "Máfia Correa".

Mas, se você pega as fichas técnicas dos anos 70 e 80, você já vê outras pessoas em estúdio com vocês - Cláudia Telles, por exemplo.
R - Claudinha fez parte do trio... quando eu tive meu filho Leo. Ela me substituiu por um tempo, inclusive há gravações do Trio Esperança em disco que a Claudinha também está cantando.

M - Nossa gravadora não permitia que saísse nosso nome quando fazíamos gravações em discos de outros artistas. Eles sabiam... e autorizavam que fizéssemos, desde que nosso nome não saísse nos créditos.

E - Claudinha Telles praticamente faz parte da família, ela conviveu muito conosco e estudou com a Marizinha durante muito tempo. Semana passada ela mandou fotos que a gente não tinha. Foto é pra guardar, né?

M - Durante esta temporada no Rival, apareceu muita gente no camarim trazendo coisas impressionantes... fotos que a gente nunca tinha visto.

Vocês têm planos?
E - Temos, mas a gente é assim mesmo. Ficamos no nada, no nada e de repente resolvemos fazer alguma coisa. Eu fico enchendo o saco da Regina e depois do Mário. Ele é o último a levar a sério. De repente, foi assim, deu certo e tá dando certo.